Análise – François Hollande: Eu votarei Emmanuel Macron, diz o criador que apoia a criatura

“Face à um risco tal [uma presidência Marine Le Pen], não é possível de se calar nem de se refugiar na indiferença. Por minha parte, eu votarei Emmanuel Macron.” Com esta frase solene, François Hollande, presidente da República francesa, pôs fim à um segredo de Polichinelo: O criador, por certo traído, votará em sua criatura.

De Taco à Taco, o jovem numero dois do Front National, Florian Philippot, respondeu assim ao presidente da república:”Macron c’est le candidat d’Hollande. Marine, c’est la candidate du peuple”.  

Marine Le Pen, herdeira de um pequeno castelo em um bairro chique da região parisiense, de acordo com seu mais próximo tenente, é a candidata do povo.

Emmanuel Macron (Em Marcha!), sentindo na face um potencial beijo da morte, agradeceu o apoio “republicano” em nome da fidelidade “aos valores da França” – sub-entendido que não se trata de uma passagem de bastão entre um líder político e seu herdeiro preferido.

Em um livro escrito por dois repórteres de renome do diário nacional Le Monde que causou grande choque em 2016, Hollande, entre outras, confessa com desenvoltura aos jornalistas que Emmanuel Macron, política e espiritualmente, é ele. É bem verdade que o presidente disse esta coisa incrível em um momento em que a relação entre os dois homens eram as melhores possíveis.

Desde então, Hollande se viu impedido de brigar uma reeleição, também, por causa da “traição de seu ministro da economia Emmanuel Macron, que deixara o governo do então primeiro ministro Manuel Vals batendo portas com força e se declarando livre, novo e sem divida de gratidão. Digamos que, é inteiramente possível, que o chefe do Estado não veja em Macron a continuidade de outrora.

Felizmente para o favorito das pesquisas de segundo turno outras lideranças políticas manifestaram a intesão de votar Macron. Desde o início da noite de ontem, e de maneira clara e incondicional, o candidato derrotado da direita republicana François Fillon, que hoje à noite renuncio à direção do partido LR, conclamou seus eleitores à “barrar o Front National e a votar em Emmanuel Macron”.

É bem verdade que o ex-primeiro ministro sob à presidência de Nicolas Sarkosy, à imagem do atual presidente da republica, não é o homem político preferido dos franceses – após dois meses de revelações chocantes. François Fillon o austero empregava (ou não, a justiça dirá) a esposa em seu gabinete de jovem parlamentar da Sarthe e enviava a fatura ao contribuinte que, em vinte anos, reforçou o patrimônio da família em mais de um milhão de euros.

Ainda assim, conteúdo de um programa ideologicamente, do ponto de vista do eleitor de direita, próximo da perfeição, o candidato LR resistiu a tempestade causada pela descoberta de um François Fillon bem mais interessado pelo dinheiro do que a imagem do homem discreto e modesto que o ex-premier cultivava.

Esta tenacidade lhe valeu 19 por cento do eleitorado francês. Uma façanha dizem os analistas tarimbados da vida política francesa. Uma façanha e um reservatório vasto de votos para o segundo turno que François Fillon dirigiu à Emmanuel Macron.

Alias, tirante Jean-Luc Mélenchon, todos os ditos grandes candidatos de declaram pela frente republicana contra o Front National e por Macron. Igualmente, todos os ex-primeiro ministros, de Alain Juppé, passando por Pierre Raffarin e Manuel Vals, endossam o candidato do movimento “Em Marcha!”.

Ministros, ex-ministros, deputados, prefeitos etc… de todos os partidos da nação; ao vivo na tevê, radio, por twitter. Emmanuel Macron recebeu uma adesão de 80 por cento da classe política francesa – do Sistema.

Mesmo Mélenchon, visivelmente inconformado com a desclassificação e o quarto lugar – há dois pontos percentuais do segundo turno – se ele teve apenas palavra severas dirigidas aos dois candidatos, fez circular através de seu exército de porta vozes que os eleitores da “França Insurreta” – movimento que ele criou para estas eleições – não deveriam dar nenhum voto a extrema direita.

Jean-Luc Mélenchon deixou uma impressão de amargor durante a declaração de domingo a noite. Ele acreditou até o final que as grandes cidades do sul da frança poderiam colocá-lo no segundo turno. A retórica que impulsiona a esquerda melenchonista é anti-presidencialista e economicamente anti-liberal. Como Marine Le Pen, ele se diz contra a “globalização selvagem”. Mas por razões diferentes.

Le Pen e Mélenchon são o mesmo e o exato oposto e no entanto… Macron, o novo, não questiona o velho presidencilismo nem tampouco o persistente ultra-liberalismo, fonte de todas as mazelas que infelicitam a vida do trabalhador. Frustração ideológica, ego ferido e fúria revolucionária tornam difícil à Jean-Luc Mémenchon o que foi fácil para(quase) todos os outros: Escolher Macron contra uma candidata percebida como um perigo mortal para e França e para a União Européia.

Mas esta eleição vai se decidir em torno do tema que é a lâmina de fundo que conduziu à eliminação da direita e da esquerda tradicional, dos grandes partidos de governo, desde de o primeiro turno e de maneira inédita durante a 5ª República Francesa: Reformar a globalização ou se esconder do resto do mundo. Ou como quer definir Marine Le Pen: entre mundialistas e patriotas.

Neste sentido, a França que colocou Jean-Luc Mélenchon na frente de Marine Le Pen em todos as grandes metrópolis do sul frontista também se sente à margem da França que votou Macron. Eles não clamam maior patriotismo que outros, como os eleitores pauperizados que fazem parte da base de Marine Le Pen, mas como seus compatriotas de extrema direita, se sentem desamparados, desprotegidos face à uma globalização onde o capital circularia sem fronteiras.

Para uns como para outros o mundo é uma ameaça e o Estado Nação uma paliçada. A diferença fundamental é a composição daqueles que estarão no interior da fortaleza nacional e quem ficara de fora- ou sera convidado com vigor à partir.

Como se vê, e em todo estado das coisas, Emmanuel Macron, o garoto prodígio do liberalismo progressista, o vingador dos pro-união e o herdeiro percebido do hollandismo é visto como um remédio muito amargo para a França “old school” como filósofo nietchiano Michel Onfray qualificara esta parte revolta do eleitorado francês.

Os institutos de pesquisa, restituídos ao papel que lhes cabe, de pitonisas modernas dos apupos do eleitor, há duas semanas da eleição mais dramática da historia republicana francesa, prevêem um triunfo assegurado à Macron.

A Europa e os mercados não rezam uma outra missa. À menos que o homem que festejou a vitoria do primeiro turno rodeado de próximos e de celebridades e ao abrigo do povo em um restaurante de paris não seja esnobado pelo mesmo povo que não foi convidado à brindar o triunfo do progresso.

 

 

 

 

 

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