Quinze anos após a surpresa Jean-Marie Le Pen a França dispersa vai à rua contra e a favor de Marine

Na quinta-feira, Oradour-sur-Glane, cidade martirizada em 1944 por tropas SS. Na sexta-feira visita ao Memorial da deportação em Paris, Na manhã do 1° de Maio, Homenagem ou jovem de origem tunisiana morto afogado pelas mão de militantes FN há 22 anos exatamente.

Cada dia da campanha um cartão postal do passado enviado aos eleitores. Assim foram os últimos dias de campanha de Emmanuel Macron.

Indo à locais simbólicos de passagens violentas da ocupação o candidato favorito das pesquisas eleitorais busca recolocar o Front National (FN) no centro da campanha de Marine Le Pen (MLP). Uma candidata que se esforça em apagá-lo da lembrança coletiva.

Uma seqüência memorial por assim dizer. Tentativa de “re-diabolisação” de MLP e do partido fundado pelo pai desta. Um Partido que reivindica uma forma de normalidade desde a ascensão da caçula de Jean-Marie ao topo da hierarquia do FN.

Em Oradour-sur-Glâne o candidato de “En Marche!” lembra a barbare nazista e o massacre gratuito de centenas de franceses por tropas SS. Um testemunho do mal absoluto praticado durante a guerra desencadeada pela febre nacionalista dos anos 30.

O nacionalismo – razão de existir do partido extremista – é o inimigo do dia. Macron, em seu comício parisiense relançou o tema, com frases assim:

– Celui-ci conduit à une chose : guerre économique, misère et guerre tout court 

No Memorial da Shoah – Shoah, um termo hebreu que designa, na língua hebraica, o holocausto praticado pelos agentes do regime hitlerista contra os judeus – Macron, folhando documentos históricos do período da ocupação, aproveita para lembrar que o finado marechal Philippe Pétain, que governara o Estado Francês sob ocupação e que fora condenado por traição pela justiça em 1945, discriminou e expôs os judeus franceses e estrangeiros à loucura genocida do ocupante nazista.

O marechal Pétain, vencedor da batalha de Verdun que decidiu a Primeira Guerra Mundial em favor da França e seus aliados, era um sócio discreto da Gagoule – conspiração de extrema direita que buscava a queda da chamada Terceira República Francesa durante o entre guerras. Pétain, um dos ídolos dos fundadores do FN.

Ao terminar a visita o candidato fez questão de soar severo e contrito:

« Nous avons aujourd’hui un devoir qui est double, le devoir de mémoire (…) et le devoir que cela n’advienne plus jamais, en acceptant en rien l’affaiblissement moral qui peut tenter certains, le relativisme qui peut en tenter d’autres, le négationnisme dans lequel certains trouvent refuge, parce que ce qui s’est passé est inoubliable, est impardonnable, ça ne doit plus jamais advenir. »

Mais uma seta que aponta para o passado não tão remoto do negacionismo e do anti-semitismo estruturante de uma parte dos fundadores, quadros e militantes da primeira hora do FN.

Como explica o Le monde, diário de referência do país:

“Depuis quelques semaines, son adversaire Marine Le Pen a, elle, enchaîné les polémiques concernant la Shoah. D’abord, début avril, en déclarant que« la France n’est pas responsable du Vél’ d’Hiv ». Puis, il y a quelques jours lorsque le président par intérim du FN, Jean-François Jalkh, a été accusé de propos négationnistes. Il a depuis été remplacé par le maire d’Hénin-Beaumont et député européen FN, Steeve Briois.

Face au Front national, M. Macron a décidé dans cet entre-deux-tours de réserver plusieurs visites à des lieux de mémoire de la seconde guerre mondiale. Il s’est ainsi rendu à Oradour-sur-Glane vendredi, pour rendre hommage aux victimes du village martyr du Limousin, où une unité de la Waffen SS remontant vers le front en Normandie massacra, le 10 juin 1944, 642 habitants.”

Neste dia do trabalho, então, pela manhã, Emmanuel Macron acrescenta mais uma camada de tinta em tons marrons à nova fachada azul marinho do FN. Ele se junta à uma homenagem à Brahim Bouarram, homem de origem tunisiana, morto afogado em 1° de maio de 1995 nas águas do Sena para dentro de cujo leito fora empurrado pelas mãos de militantes do partido de extrema direita ao final do desfile tradicional do Front pela avenida Rivoli, a poucos metros do local do crime.

O site de France Info relembra:

Ce 1er mai 2017, vingt-deux ans plus tard, Emmanuel Macron observe le silence du souvenir aux côtés du fils de Brahim Bouarram. Le 1er mai 1995, son père fut poussé dans le fleuve par des militants d’extrême droite. Perpétré à quelques jours de l’élection présidentielle, ce meurtre avait suscité une émotion immense.

Le candidat Macron entend ramener l’extrême droite à son histoire : “Avez-vous entendu les propos de la dirigeante du parti d’extrême droite sur le Vel’ d’Hiv’ il y a quelques semaines ? Les racines sont bien là, elles sont vivaces. Les mêmes causes produisent les mêmes effets”, a-t-il rappelé.

Mais uma forma de lembrar que o FN é uma política de exclusão dos estrangeiro que é assumida na plataforma  de todos os candidatos do partido. A prioridade nacional ainda é o objetivo final desta formação política que costuma servir de abrigo à militantes mais truculentos sempre prontos a se explicar pela força dos punhos bem mais do que pela força das ideias que eles portam.

A ida de Emmanuel Macron a este local simbólico da intolerância de certos militantes do partido de sua opositora é também uma maneira de se demarcar da postura de Marine Le Pen, percebida por muitos, como sendo hostil aos franceses de origem arabo-mussulmana.

O candidato de “En Marcha!” se inscreve em oposição direta às posições históricas do partido lepenista durante o comício deste primeiro de maio:

Jamais je n’accepterai la division du pays. Jamais je n’accepterai que les Français qui croient en l’islam soient insultés parce qu’ils croient en l’islam. Jamais je n’accepterai que d’autres religions soient insultées non plus.

Marine Le Pen est l’héritière d’un nom. Elle déteste ce que je suis, car elle ne respecte pas les Français dans leur diversité, les familles françaises dans leur diversité. Jean-Marie Le Pen a tenu des propos odieux sur le policier tué sur les Champs-Elysées. Marine Le Pen ne les a pas sanctionnés. Elle a elle-même tenu des propos odieux sur le Vél’ d’Hiv et notre histoire.

 

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