Debate final entre Macron e Le Pen: Os dois minutos de televisão que puseram fim às boas maneiras

Na abertura do antecipado debate de segundo turno da eleição presidencial francesa, Marine Le Pen, segundo candidato da extrema direita na história da França à alcançar à fase final da disputa, foi convidada à dividir a impressão que teve, até então, da campanha nesta reta final. Por dois minutos e três segundos inteiros ela disse o seguinte:

“Eu estou extremamente feliz com a maneira como se passou este segundo turno. A escolha política que os franceses deverão fazer é clara. O Sr. Macron é candidato da globalização selvagem, da “uberização”,  precariedade, da brutalidade social, da guerra de todos contra todos, do saque econômico, especialmente, de nossos grandes grupos, do esquartejamento da França pelos grandes interesses econômicos, do “comunitarismo”, e tudo isso pilotado pelo Sr. Hollande, que manobra, agora, da maneira mais transparente que possa existir.

O Sr. Cazeneuve (Bernard Cazeneuve, primeiro ministro) teria dito, eu escutei ontem ou ante-ontem, “façam votar domingo, de maneira resoluta, pelo Sr. Emmanuel Macron. Façam-no com o orgulho do que nós realizamos e com o desejo de ver o que realizamos prosseguir.”

Pois Bem! Face à isso eu sou a candidata do povo e a candidata da França que nós amamos, de sua cultura, de sua civilização, de sua Unidade.

Eu sou a candidata da nação que protege, que protege nossos empregos, a segurança dos nosso compatriotas, que protege nossas fronteiras, que nos protege contra a concorrência desleal e o crescimento do fundamentalismo islamista.

E além do mais, em suma, os franceses puderam ver o verdadeiro Macron no segundo turno. A bondade deu lugar à desdita. A estratégia de Marketing foi assumida pela maquina do PS (partido socialista). O sorriso estudado se transformou em caretas, pouco à pouco, ao longo dos comícios.

(Emmanuel Macron, para Marine Le Pen, seria) O filho querido do sistema, das elites. Na realidade a mascara caiu Sr.Macron! Vejam só! Eu penso que tudo isso é bem útil.

Nós vimos as escolhas que são escolhas cínicas. Argumentos de campanha vergonhosos, que vêm talvez da frieza do banqueiro de negócios que o senhor nunca deixou de ser.

Eu penso que este período des esclarecimentos foi profundamente útil aos (franceses para fazer uma escolha) sic.”

Je suis extrêmement heureuse de la manière dont se déroule ce deuxième tour. le choix politique que les français devrons faire est claire. M. Macron est le candidat de la mondialisations sauvage, de l’uberization, de la précarité, de la brutalité social, de la guerre de tous contre tous, du saccage économique, nottament de nos grands groupes, du dépeçage de la France par les grands intérêts économiques, du communautarisme, et tout ça piloté par M. Hollande, qui est à la manœuvre, maintenant, de la de manière la plus claire que soit.

M. Cazeneuve a même dit, j’ai l’écouté hier ou avant-hier, faites voter dimanche, résolument, pour m. Emmanuel Macron. Faites-le avec la fierté de ce que nous avons accomplis et le désir de voir ce que nous avons accomplis se poursuivre.

Eh bien, face à cela je suis la candidate du peuple et la candidate de la France que nous aimons, de ça culture, de ça civilisation, de son unité.

Je suis la candidate de la nation qui protège, qui protège nos emplois, la sécurité de nous compatriotes, qui nos protège nos frontière, qui nous protège face à la concurrence déloyale et face à la montée du fondamentalisme islamiste, et puis, somme toute, les Français ont pu voir le vrai Macron dans ce second tour.

La bienveillance a fait place à la médisance, la stratégie marketing a été pris en main par la machine du PS, le sourire étudié que se transforme en Rictus, au fur e a mesure des meetings. L’enfant chérie du système, des élites.

En réalité il a tombé le masque M. Macron! Voilà! Je trouve que c’est bien utile. On a vu les choix qui sont des choix cyniques, d’argument de campagne honteux, qui révèlent peut-être la froideur du banquier d’affaires que vous n’avez jamais cessé d’être.

Je pense que cette période de clarifications a été profondément utile aux français pour faire un choix.

Com uma desenvoltura e sem cerimônias, Marine Le Pen, primeiro candidato de extrema direita à participar de um debate de segundo turno em uma eleição presidencial francesa, indicou o tom que gostaria de dar à justa verbal que travaria, por duas horas, com Emmanuel Macron.

Dois minutos e três segundos que dinamitaram todos os códigos de boas maneiras até então seguidos pelos outros finalistas da eleição suprema da República francesa nos seis debates precedentes.

A violência do libelo inicial, proferido por uma candidata, enfrente à pilhas de documentos e pastas, e que exibia um sorriso e um tom de voz jocoso e satisfeito que ela nunca abandonaria, instalou um clima de mal estar permanente.

Marine Le Pen, a filha de Jean-Marie – o homem que não pode debater contra o presidente Jacques Chirac em Abril de 2002 – pareceu ter entrado na arena do debate decisivo como uma candidata que se sabe derrotada, sem nada a perder.

A ferocidade inicial, que iria entremear todas as atitudes da chefe da extrema direita francesa durante o encontro entre os dois finalistas, nunca foi modulada, não parecia ter uma preocupação com o impacto que teria sobre à imagem da candidata ou com um certo respeito mínimo à conferir aquele que, como ela, poderá ser o futuro chefe do Estado francês.”

Emmanuel Macron acusou o golpe, tanto duro quanto inaudito. Ele reagiu a primeira estocada de maneira firme mais polida: “A senhora demonstrou que não é a candidata do espirito de finesse, (nem) da vontade de (ter) um debate democrático, equilibrado e aberto.”

E foi a primeira e última vez que Emmanuel Macron rebateu aos virulentos ataques que lhe foram dirigidos com tamanha moderação.

Um debate impossível, como definiu o editorial do Le Monde – cotidiano vespertino de referência na França – onde cada um desenvolvia seus temas e respondias as próprias indagações sem muita consideração pelas dúvidas que podiam circular nas cabeças dos eleitores.

Nesse valsa desconcertada, em que cada um parecia conduzir a dança em um uma direção oposta à do parceiro, a quantidade de pisadas nos pés escalou durante todo o baile até chegar ao ápice, quando Macron qualificou a adversaria de “parasita” do desespero alheio e de ser uma candidata “indigna” de exercer à magistratura suprema da nação.

Até o final, de maneira inesperada, Marine Le Pen se comportou com uma violência locutória típica da família política que ela representa. Surpreendente atitude da parte daquela que se disse, ainda esta semana, ter rompido “definitivamente” com o proprio pai, o turbulento presidente de honra do FN Jean-Marie Le Pen.

A deputada européia dedicou os últimos dez anos à “dediabolizar’ a imagem pessoal e aquela do partido que dirige. Nos dias que conduziam ao debate final a critica política local imaginava que Marine Le Pen tentaria lançar mão da carta da respeitabilidade republicana para assentar de vez a nova identidade do partido.

Mesmo que uma parte do plano de Le Pen para à noite de ontem fosse o de vergastar a imagem do oponente, a extrema agressividade e, até mesmo, por momentos, vulgaridade, surpreendeu à todos que assistiram ao debate.

O que mais, agindo em legitima herdeira da postura provocadora e contestatória da extrema direita em geral e do FN versão Jean-Marie em particular, a postulante à cadeira de François Hollande pôs, em boa parte, à baixo todos estes anos de conscenciosos esforços feitos para modificar a percepção negativa que a maioria do eleitorado manifesta ter dela e do partido que dirige, pesquisa de opinião após pesquisa de opinião, desde os anos oitenta.

Face à um Emmanuel Macron professoral e sob controle dos temas técnicos, Marine Le Pen pareceu despreparada, mal informada e pouco preocupada com a veracidade das afirmações  – de fato, o Le Monde identificou 19 episódios de mentiras, inverdades, distorções ou exageros nas diversas intervenções da presidente do FN.

Por outro lado, a eficiência aparente de Emmanuel Macron, por vezes pôde beirar à arrogância. Talvez um preço à pagar para assegurar a imagem de um candidato que tem condições de assumir à maquina do Estado em nove dias, caso venha a ser eleito.

Alias, a pesquisa instantânea realizada pela rede de jornalismo 24 horas BFMTV, logo após ao final do programa, deu a vitória à Macron que parecei mais convincente à 63% dos entrevistados contra 34% que diziam a mesma coisa à respeito da performance de Marine Le Pen.

Euro e União Europeia

O Front National foi o primeiro partido francês à se manifestar contra a moeda única. Jean-Marie Le Pen, presidente de honra do partido hoje dirigido pela adversária de Emmanuel Macron, antes mesmo que o tratado de Maastricht fosse adotado criando a atual Zona Euro, se manifestara contra.

Enfim, Marine Le Pen e seu partido construíram a plataforma política do FN apoiada em dois pilares: O fim da imigração e a saída da comunidade Européia e da zona Euro.

Dai a surpresa que causou o aparente despreparo da candidata do fim do Euro durante a discussão deste tópico, especificamente. Marine Le Pen, que sabe que as pesquisas de opinião demonstram que a maioria do eleitorado não deseja sair da União Européia ou abandonar a moeda única, tenta, desde de o inicio da campanha, abandonar a promessa de deixar a UE sem abandona-la totalmente.

Posto que todo o projeto de governo da candidata da extrema direita é baseado na hipotese de um “Frexit” integral e espedito, Le Pen, indagada sem trégua pelo oponente, pareceu imprecisa quanto as condições de saída ou permanência da França na comunidade europeia, sobre as consequências concretas no cotidiano dos franceses, caso o Franco volte a ser a moeda corrente, ou ainda sobre o duplo sistema monetário que ela pretende instaurar quando do fim do Euro no país.

A cada pergunta de Macron, Marine Le Pen oferecia um reposta em contradição com a primeira que fora dada, realizava um movimento brusco ou iniciava uma consulta infrutífera à pilha de pastas e documentos postados em face.

O ex-ministro da economia defendeu a permanencia de “uma França forte em uma Europa que protege”.

Apesar das maneiras, uma estocada na mosca

É verdade que Marine Le Pen foi capaz de colocar Emmanuel Macron na defensiva durante o bloco de discussão sobre a luta contra o terrorismo. Marine Le Pen colocou em evidência o apoio recebido pelo adversário da parte e associações religiosas que agrupam diversas entidades islâmicas, em particular à União das Organizações Islâmicas da França (UIOF) que a candidata qualifica de “pastora do ódio” e suspeita que esta ensine um islã indulgente com, e talvez, complice do terrorismo.

“A UOIF é a união das organizações islamistas da França, porque, na verdade é uma associação islamista… Com o caso Saou o Sr. foi colocado diante de uma chantagem: ou o Sr. mantinha (na campanha) o Sr. Saou, que é um radical islamista, ou o UOIF conclamaria o voto contra o Sr. – que preferiu conservar este militante ao risco de condenar os desvios (de Saoul) que deixam mortos por todo o território.”

L’UOIF, c’est l’union des organisations islamistes (sic) de France, car en réalité c’est une association islamiste. (…) Il faut éradiquer l’idéologie du fondamentalisme islamiste dans notre pays et vous ne le ferez pas car vous êtes soumis à eux, car ils vous tiennent. (…) Avec l’affaire Saou vous avez été mis devant le chantage : soit vous gardiez M. Saou, qui est un radical islamiste, soit l’UOIF appelait à vous faire battre – et vous avez préféré conserver ce soutien plutôt que de prendre le risque d’exprimer la condamnation de ces dérives qui font des morts sur notre territoire.

Macron não renegou o apoio recebido pela UOIF mas refutou a proximidade com o grupo como insinua Marine Le Pen.

Além do mais, apesar do apoio à Macron, esta associação que regroupa 250 organizações islâmicas, fez questão de esclarecer no site da UOIF que: ” Nós temos repeito peso senhor Emmanuel Macron mas não temos nenhuma ligação particular com o movimento (Em Marcha!) (…) O senhor Macron não esta mais “entre nossas mãos” que estaria a senhora Le Pen ou um outro candidato das eleições presidências.

“Nous avons du respect à l’égard de monsieur Emmanuel Macron mais n’avons pas de liens particuliers avec son mouvement. (…) Monsieur Macron n’est pas plus ‘dans nos mains’ que ne l’est madame Le Pen ou un autre candidat aux élections présidentielles.”

Já o caso de Mohamed Saou, oferecido por Marine Le Pen como um exemplo flagrante do laxismo do lider das pesquisas eleitorais em relação à luta contra o terrorismo islamista, é uma polêmica mas laboriosa que parece a distrinchar.

O site da cadeia pública de jornalismo France Info lembra que, efetivamente, Saou, um representante regional da campanha do candidato de “Em Marcha!”, compartilhou menos de uma dezena de links polêmicos de intelectuais de origem muçulmana.

Estas relações incomodas de um dos dirigentes locais do movimento criado pelo ex-ministro da economia lhe  foram lembradas, ao vivo, por uma militante pro-François Fillon durante um programa de debates em abril.

No entanto, France Info explica que, de modo geral, Mohamed Saou faz um uso  banal das redes sociais, sem ultrapassar os limites legais da liberdade de expressão.

Ainda assim, Saou, mantido no cargo que detinha, pedira afastamento, pendente à uma avaliação do conselho de ética do movimento. E, independentemente de outras medidas, o candidato mesmo, ainda segundo as informações da redação de France Info, teria dito que,  apesar de “uma ou duas besteiras” compartilhadas na rede, Mohamed Saou era “um bom tipo”.

Seja como for, a chefe da direita ultra nacionalista explorou de maneira hábil a forma como a equipe de Macron resolveu este dilema trazido à tona pela campanha derrota de François Fillon.

Uma última salva de acusações

E assim se transcorreram duas horas e uma dezena de minutos entre os dois aspirantes à Presidência da República na França. Em alta voltagem.

Marine Le Pen, inobstante o teor distinto da questão, lançava rajadas contra o oponente. Macro, o submisso ao Islã, à União Européia, à globalização, ou a capital internacional ou ainda à Angela Merkel.

“Independente do que aconteça, a França sera dirigida por uma mulher: ou eu ou a senhora Merkel”, ironizou, aos risos, a líder do FN.

Macron também era a eminência parda da presidência Hollande. Alias, no afã de enrolar o legado da presidência que se termina ao redor do pescoçudo candidato “Em Marcha!” Le Pen misturou dois casos de revenda de ativos industriais que, apesar das alegações feitas durante o debate, nada ou pouco tinham à ver com a gestão de Emmanuel Macron à frente do ministério da Economia.

Por fim, servido como “pièce de resistance”, madame Le Pen insinuara que futuras revelações mostrariam que o favorito das pesquisas teria uma conta off shore nas Bahamas.

Uma manipulação grosseira do site 4Cham, considerado por muitos como a “lixeira da Internet” e que ofereceria “provas” da existência de tal conta em um banco da ilhas Cayman. O documento foi colocado no ar à poucas horas do debate. A candidata nega conhecimento prévio da publicação.

Emmanuel Macron deu queixa por difamação. A justiça prometera investigar.

No inicio da manhã, o candidato de “Em Marcha!”, concedeu entrevista à radio mais ouvida do país, ejustificou o espirito de revide que demonstrou pela necessidade de “reestabelecer a verdade” face à acusações que ele considera infundadas. No entanto, Macron confessou que a troca de golpes o fazia sentir-se “um tanto sujo”.

O Eleitor sera o jure do espetáculo. veredito no domino às oito horas da noite.

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