França – Eleição Presidencial 2022 – YapMag.net inicia hoje cobertura da briga pela chefia do Estado Francês

YapMag.net, após período sabático, esta de volta. Muitas novidades estão previstas e em fase de desenvolvimento. Dentro em breve, uma nova roupagem, novos produtos e um novo projeto editorial dessa revista online serão desvelados.

Enquanto o novo não vem YapMag.net volta ao básico: cobertura da atualidade social e política com muita análise e entrevistas que trazem a expertise de quem acumula conhecimentos e saberes específicos para entender e explicar um mundo complexo e sempre em lutas diversas.

Uma delas é a eleição presidencial francesa. Como em 2017, quando inauguramos este espaço, traremos aos nossos leitores, antigos e novos na comunidade YapMag.net, a cobertura deste evento democrático com grande impacto para o equilíbrio da Europa pós-brexit.

Neste primeiro artigo, daremos conta da foto de campanha no momento em que o ano de 2021 se fecha e que as candidaturas do centro à extrema direita (ED) estão consolidadas, mas, que à esquerda, dispersa e enfraquecida, ainda há manobras que buscam à unificação.

Vamos falar de números, pesquisas e do ambiente geral de uma campanha que, apenas iniciada sua fase mais aguda, se vê ameaçada na sua dinâmica habitual pelo espectro da nova variante Ômicron. Em um panorama geral onde a ED tem dois candidatos próximos dos dois dígitos em todas as pesquisas de opinião, YapMag.net retoma sua trajetória para levar você até o segundo de uma eleição que já se mostra eletrizante e, sobretudo, imprevisível.

Reta final chega junto com a nova ameaça sanitária Ômicron

No dia 20 de Janeiro, o respeitado Centro de Controle e Prevenção (CDC), principal agência de regulação sanitária dos Estados Unidos da América do Norte (EUA), e referência mundial na área da saúde pública, informou que a nova variante Ômicron do virus Sars-Cov-2 responsável pela Covid-19, que é a versão mais transmissível do coronavirus, é agora dominante entre os novos infectados no país norte-americano. No início do mês corrente, esta cepa era responsável por não mais que um por cento, explicou o CDC. Hoje, de acordo com esse órgão, cerca de três quartos dos novos casos são uma decorrência do Ômicron.

No Reino Unido do primeiro ministro Boris Johnson, conforme reportou o Washington Post, na mesma semana, o líder conservador foi convencido pelo conselho científico  que orienta o governo britânico à impôr um protocolo sanitário mais restritivo para evitar que a nova onda de contaminações impulsionada pela nova cepa ultra-contagiosa não leve o sistema de saúde do reino ao colapso e à novos picos de mortes diárias por Covid-19 – hoje em torno de cinquenta por dia neste Estado chefiado pela monarca Elizabeth IIª.

De acordo com os conselheiros científicos do chefe do governo britânico, se nada fosse feito, os mortos poderiam se contar em milhares por dia entre fim de janeiro de 2022 e início de fevereiro do ano que vêm. Até ontem (29 de dezembro), ainda que tenha chegado próximo à capacidade máxima de leitos de hospitais vagos no país, e face à um número diário de infecções batendo recordes à cada dia, a situação, de acordo com o gestor público da saúde, era estável, com menos pacientes entubados que no mês de novembro e com a média de óbitos igualmente baixa.

Mesmo tom circunspecto no resto do Velho Continente. Dinamarca, Alemanha, Portugal, Suécia, Holanda, entre outros, examinam ou já impuseram restrições à circulação variando entre confinamento parcial e toques de recolher, passando pelo fechamento de discotecas, cinemas e salas de eventos ao retorno do tele-trabalho compulsório, porte de máscara obrigatório, passaportes vacinais entre outras medidas mais restritivas do que as em vigor. Todos os países da Comunidade Européia conhecem nesse momento um aumento diário exponencial de casos comparado à taxas médias dos últimos meses.

Ainda na semana passada, o presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS) Tedros Adhanom Ghebreyesus, com alarme, pediu à todos que se disponham à evitar reuniões públicas ou familiares como contra-media à propagação deste nova variante viral. “Um evento cancelado é melhor que uma vida cancelada”, lançou o dirigente. Ele ainda lembrou que já há “evidencia consistente de que [a cepa] Ômicron esta se espalhando significativamente mais rápido” e que pessoas já imunizadas contra as outras variantes existentes “podem ser infectadas ou reinfectadas”.

Enfim, uma nova ameaça sanitária paira no ar. No entanto, até o final da semana passada, ainda que se dizendo preocupado, o governo francês apostava mais no passaporte vacinal, que como explicou no dia 21 de Dezembro, o porta-voz do governo do primeiro ministro Jean Castex, Gabriel Attal, deve ter sua implementação acelerada para o início de janeiro, do que em medidas draconianas. Uma aposta arriscada devido às centenas de milhares de passaportes sanitários falsificados. São cerca de 185 mil casos de fraude de acordo com a Polícia Nacional e o ministério do Interior.  O clima populista que se intensificou no país hexagonal desde o início da pandemia faz com que o número de recalcitrantes à vacina e ao uso de máscaras seja considerável.

Mas o Ômicron, como sustentam diversos pesquisadores de ponta, esta destinado à ser dominante porque mais contagioso ao ponto de ultrapassar as barreiras imunológicas até mesmo de triplo imunizados.  Apesar do desejo de preservar os franceses de um retorno à medidas drásticas, que levaram um grande número de cidadãos deste país à desenvolver formas de fadiga psicológica que se constatam pelo aumento do consumo de ansiolíticos e de consultas nos consultórios médicos e psiquiátricos, Attal garantiu que a situação merece monitoramento constante e que, conforme a evolução do Ômicron, “nada esta excluído” em termos de medidas que evitem o caos na saúde conhecido nas primeiras ondas da pandemia que já dura quase dois anos.

Então, alguns dias depois da fala de Yvan Attal, no sábado de Natal, a França conheceu um primeiro recorde de cerca de 104 mil casos em um só dia. Ontem (29 de Dezembro), foram mais de 200 mil novos casos de Covid-19. Esta explosão de contaminados diários levou o governo Castex à anunciar medidas que ainda são consideradas brandas por experts mas que tem como objetivo ganhar tempo para poder avaliar a periculosidade desta cepa – tanto para a saúde dos pacientes como para a administração hospitalar francesa. Dominique Costagliola, pesquisadora bioestatística emérita no instituto Inserm da França, por exemplo, pensa que o poder público estaria “jogando roleta russa [com Ômicron] esperando pelo melhor”. Outros abundaram neste sentido durante a semana que passou. No entanto, o ministro da Saúde, nessa terça-feira (28 de Dezembro) persistiu na defesa da estratégia vacinal do governo, ao deixar uma reunião de crise do palácio do Élysée em Paris.

O Conselho de Segurança do governo francês excluiu, contudo, novo confinamento ou toque de recolher para o mês de janeiro -foram três e dois respectivamente desde março de 2020 . No entanto, o tele-trabalho volta à ser obrigatório, à razão de três sobre seis dias úteis por semana. Outras medidas de limitações à reuniões públicas, frequentação de bares e restaurantes e comércios de grande afluxo além da obrigatoriedade do passaporte sanitário generalizado foram anunciadas. No entanto, ainda que a obrigatoriedade deste documento que funciona como um salvo conduto para a vida social não seja prevista para o mundo do trabalho e proibida em atos e reuniões políticas públicas alguns partidos já se declararam dispostos a bravar a decisão do Conselho Constitucional para poder receber apoiadores em mini-comícios em ambientes fechado com a segurança necessária. Para que não hajam acusações de irresponsabilidade sanitária da parte de candidatos que, entre outras, buscam uma chance de dirigir o país durante e após a fase aguda da pandemia.

Mesmo antes dos anúncios concernindo as novas regras para encontros públicos – máximo de 2 mil pessoas para eventos em ambiente fechado e de 5 mil em evento ao ar livre – em entrevista matinal à radio de jornalismo 24 horas France Info, o ex-ministro do Interior sob à presidência de Nicolas Sarkosy, Brice Hortefeux, que apoia a candidata récem escolhida pelo partido Les Républicains (LR) Valérie Pécresse, já previa o fim dos “grandes comícios” e preconizava um número limite para reuniões públicas. O que de fato veio a ser decretado pelo governo Jean Castex.

Outros, como o partido extremista de direita Rassemblement National (RN) e o partido da France Insoumise (LFI), dois partidos que apostam no apelo populista para mobilizar o eleitorado, declararam ontem (29 de Dezembro) que não devem impor os limites de público preconizados pelo governo Castex.

Mais uma vez, como no caso das duas últimas eleições [Municipais e Regionais], o processo eleitoral deverá ser perturbado por limitações que não favorecem o envolvimento e a participação do eleitorado que pode, como nos anos anteriores, dar de ombros para as urnas e se abster em massa. Contudo, o jovem porta-voz, no mesmo briefing da semana passada à imprensa, descartou a possibilidade de adiar as eleições parlamentares e presidencial programadas para ocorrerem entre abril e junho do ano que vêm. “O presidente da República (…) indicou claramente que as datas eleitorais do [nosso] país serão mantidas, pois, isso vai da vida democrática do (…) país”, completou Attal.

O contexto político, de desencanto com a política partidária, bem como o a situação sanitária, como analisou em reportagem recente o vespertino Le Monde, faz pairar o fantasma da abstenção maciça sobre esta eleição chave do sistema político francês.

Nesse clima de incertezas, o que se pode afirmar? Qual panorama geral,  a quatro meses do pleito presidencial?

Após uma onda de choque de extrema direita chamada Zemmour, uma noviça chamada Pécresse cria uma nova dinâmica junto à opinião

A série história de pesquisas de opinião que mede as intenções de voto para à presidência da República na França, realizadas pelo instituto Cevipof, ligado a escola superior Science-Po de Paris, em colaboração com o  diário Le Monde, dão a medida do quanto a entrada do agora ex-jornalista e polemista de extrema direita (ED) Eric Zemmour e a vitória, se não surpreendente com certeza inesperada, da presidente da região Île-deFrance (IDF – região metropolitana e rural de Paris) Valérie Pécresse retiram a disputa da monotonia hipotética das consultas eleitorais.

Grosso modo, o que os números prediziam era um repeteco de 2017: No final, o presidente em exercício Emmanuel Macron, ainda putativo candidato da situação, contra a candidata de ED canal histórico Marine Le Pen derrotada, tem cinco anos, pelo atual ocupante do Palácio do Élysée. No entanto, um rumor surdo cujos ecos remontam aos dias que seguiram as eleições Regionais do meio do ano que se fecha – cujos resultados decepcionaram o eleitorado de ED que se viu mais uma vez excluído dos executivos regionais, apesar das esperanças que as pesquisas de opinião autorizavam à embalar – pouco à pouco se materializaram.

Eric Zemmour, midiático polemista de ED, multi-reincidente por crimes de ódio religioso e racismo, além de ainda figurar como réu em um punhado de processos por transgressões também de teor racista, sai da constatação do que ele vê como uma França decadente e islamizada e passa para a ação. Ele entra na campanha em setembro, através do estratagema da turnê de autógrafos e de promoção do mais recente livro lançado sob medida para fazer figura de programa que se disfarça em ensaio político como o escritor é useiro, vezeiro e conhecido pelos inúmeros fãs.

O disfarce tinha o objetivo de preservar sua superficie midiática – posto que o grupo Bolloré, controlador do grupo de mídia Vivendi, dava guarida diária e sem restrições ao histrião ultranacionalista no canal de jornalismo CNews. O regulador das telecomunicações na França (CSA) não permite que um candidato fale sem limitação e sem contraditório durante período pré-eleitoral. O CSA, então, ciente da burla concebida pela equipe do candidato que se escondia por trás do autor em turnê, acabou obrigando o canal de Vincent Bolloré de tirar Zemmour do ar. Um mês antes, Zemmour pedira licença do semanário ultra-conservado Figaro Magazine onde o escritor mantinha uma coluna tem uma década.

Nesse meio tempo, Zemmour gozou de uma exposição máxima de suas idéias neo-integralistas e de suas fórmulas retóricas preconizadas para causar escândalo (e repercussão garantida pelo escândalo que causam). O entusiasmo que, entre setembro e outubro, esta candidatura com contornos assumidamente “trumpistas” gerou colocou o neófito candidato à um par de pontos percentuais do segundo turno contra Macron. Até as séries de novembro de diversos institutos de sondagem, Eric Zemmour parecia um candidato irresistível. Marine Le Pen, prometida a repetir o resultado de 2017, se via relegada ao empate técnico e até mesmo à terceira colocação devido à “dinâmica Zemmour”.

Entretanto, a inexperiência de campanha do ex-jornalista o levou à erros não forçados, de discurso, comportamento e postura que o diminuíram junto ao eleitorado de ED que disputa à Marine Le Pen.  O que fez com que estagnasse à pouco mais de dez por cento nas pesquisas subsequentes e, logo, atrás de sua principal concorrente de primeiro turno até então.

E justamente, quando a campanha de Eric Zemmour buscava um novo impulso, a escolha inesperada de Valérie Pécresse (LR) parece relegar a candidatura do ex-comunicador à condição de “spoiler” da ED. Se o voto acontecesse hoje, a acreditar nas pesquisas, a quiquagenária presidente da região IDF passaria à disputa final com reais chances de vitória sobre o presidente da República.

Isso porquê, a grande deficiência das duas candidaturas de ED é que elas parecem sofrer sob um teto muito baixo de crescimento. Um vício redibitório destas chapas. Já Pécresse é vista como presidenciável até mesmo por certos eleitores mais à direita, que votariam em Macron por falta de opção ou para barrar o caminho da ED ao poder mas que poderiam se sentir tentados pela novidade que pode representar uma mulher de direita liberal que chegaria ao poder neste país onde o Estado nunca foi chefiado por uma mulher desde o advento da democracia, ou seja, em mais de 150 anos de eleições.

O gráfico acima – com a evolução da cota de preferência dos presidenciáveis nas pesquisas do instituto Elabe de setembro de 2021 até o último dia 21 – mostra que a base da “direita republicana” é mais forte do que Marine Le Pen e Eric Zemmour podiam pensar. Em duas semanas, depois da vitória nas primárias internas, Valérie Pécresse, que derrotou, sucessivamente, o favorito Xavier Bertrand, presidente ex-LR da região do Grand Nord e o outsider de  extrema-direita-compatível Eric Ciotti (LR) de Nice (Rhône-Alpes-Côte D’azur), saiu dos meros 10 por cento para alcançar os 20 por cento e, por enquanto, perder um pouco da dinâmica – mas ainda se encontrando em empate técnico com Marine Le Pen. Em menos de duas semanas de um inicio de campanha discreto mas simbólico, à ex-ministra de Jacques Chirac já apareceu em mais de três pesquisas de opinião diferentes à frente de Marine Le Pen e de Zemmour.

Mas Pécresse,  estimada entre 17 por cento à 20 por cento, por diferentes institutos de pesquisa, está ainda à baixo do potencial de uma candidata praticamente única da “centro-direita”. Isso se explica pela radicalização deste eleitorado que se deixa seduzir cada vez mais por candidaturas extremas, sejam elas familiares como de Marine Le Pen, sejam “neófitas” como de ex-polemista de ED Eric Zemmour. Juntos, eles podem estar captando entre 6% à 10% do eleitorado potencial LR, de acordo com a análise de Cevipof para o Le Monde

Esperando o anúncio oficial de uma campanha ainda oficiosa

Se a esquerda permanece atolada no mangue das diversas candidaturas que dividem suas forças e a perspectiva pouco convincente de uma “primaria popular”, a indefinição no campo da situação tem mais que ver com a oportunidade do anúncio de candidatura que com a definição do candidato que representará o partido macronista La Republique en Marche (LRem). Emmanuel Macron, salvo supresa de natureza difícil de vislumbrar, será candidato à sua sucessão. Incialmente, uma data entre janeiro e fevereiro do ano vindouro era mencionada à boca pequena.

No entanto, a nova crise causada pelo variante Ômicron pode protelar ainda mais a entrada oficial de um presidente que ganha em ser visto em ação encarnando o personagem de chefe de Estado gestor de uma calamidade nacional. A aposta na aceleração da vacinação de reforço bem como a transformação, o quanto antes, da lei do passaporte sanitário em passaporte vacinal (onde pessoas que contam apenas com recentes testes negativos para o coronavirus não serão mais aceitas sem o comprovante de vacinação)  pode repercutir de forma negativa caso não pague os dividendos esperados pela situação. O primeiro mandatário lidera todas as pesquisas até aqui, como demonstra o gráfico acima do instituto Elabe, e um revés no controle da pandemia em solo francês, tão próximo do pleito presidencial, pode ter efeitos colaterais deletérios para o líder da disputa.

O terreno instável e futuro incerto da centro-esquerda

Se por um lado, da ED à centro-direita, todos contendores de peso já são conhecidos, por outro lado, a esquerda é uma nau à deriva em um mar de incertezas. No Papel, a antiga esquerda plural tem quatro candidatos que somados realizariam, se acreditarmos nas estimativas conhecidas, um escore nos entornos dos 20 por cento. O resultado mais débil das esquerdas francesas na história das eleições presidenciais.

Ainda assim, uma hipotética candidatura única colocaria a esquerda em condições de disputar, pelo menos, uma vaga no segundo turno. A divisão na direita e na ED colocou a barra de classificação mais à baixo que em outros pleitos. Como em 2017, não é inconcebível que um candidato chegue ao turno derradeiro desta disputa com cerca de 20 por cento dos votos válidos. Quiça, alguns pontos percentuais à menos.

Então, no dia 8 de dezembro, Anne Hidalgo, prefeita recentemente reeleita de Paris, e candidata à presidência empossada pelos militantes do Partido Socialista (PS), vendo que sua candidatura, e a dos outros contendores à esquerda como Fabien Roussel do Partido Comunista (PCF), Yannick Jadot dos verdes (EELV) e o insoumis Jean-Luc Mélenchon (LFI), não decolavam, começou e terminou o dia no mesmo estúdio de tevê mas com mensagens diametralmente opostas umas das outras.

Pela manhã, no tradicional seguimento político do telejornal matinal do canal France 2, Hidalgo disse que as péssimas notícias sobre as intenções de voto atribuídas ao seu nome não a desencorajariam de perseguir a presidência, como candidata do PS, até o final. A chefe do executivo da capital francesa, então, pegou um trem à grande velocidade (TGV), fez um tour com ida e volta pelo interior do país hexagonal, e, no mesmo estúdio, por volta das 20 horas, anunciou que participaria da “Primaria Popular” – organizada por uma ONG independente próxima de EELV que busca a unificação da esquerda para à eleição de 2022 – e que conclamava seus camaradas de esquerda à se engajar nesta mesma via.

A mudança brusca de posição da socialista se justificaria, segundo a interessada, pelo risco de que “não exista mais nada” à esquerda ao final deste ciclo eleitoral. Imediatamente, todas as candidaturas restantes, salvo do ex-socialista Arnaud Montebourg, sem grande peso, rejeitaram firmemente a proposta de união da última chance. Seria o fim da odisséia antes de começar.

Contudo, vendo-se que a mão estendida provocou divisões no interior das demais campanhas – em especial entre os ecologistas de EELV – uma nova corrente de eletrochoque tenta constranger a centro-esquerda à juntar suas forças através do último veículo viável da Primaria Popular. A ex-ministra da Justiça, sob o governo socialista de Jean-Marc Ayrault, Christiane Taubira, súbito, após, por meses, ter enterrado um projeto de candidatura, anuncia que voltou a considerar a hipótese, pouco antes do feriado natalino.

Jadot, Mélenchon e Roussel continuam a rejeitar a solução da primária. Hidalgo, obviamente, disse que não desistiria da candidatura em favor de Taubira, mas se inclinaria diante da escolha “cidadã” de uma primária que tem data marcada ainda que lhe falte candidatos brigando por essa nomeação. Ainda assim, ontem (29 de Dezembro), nas colunas do Le Monde, a ex-ministra, que conduziu a aprovação do projeto de lei que legalizou o casamento para pessoas do mesmo sexo na França, assinou coluna onde afirma, sobretudo, que face à responsabilidade histórica do campo da centro-esquerda no próximo pleito, ainda seria possível encontrar pontos suficientes de convergência entre os diferentes candidatos e partidos para iniciar “uma nova aventura coletiva de longo termo”. Uma aventura cujo momento, estimou a ex-parlamentar, teria chegado.

Sem realmente se declarar candidata ela mesma – pelo menos não ainda – Christiane Taubira relança o plano de união necessária para a sobrevivência da esquerda como força política no país. Ao final desta carta aberta aos camaradas de outros partidos, a ex-deputada das Guianas Francesas deseja a união e adverte à todos os concernidos que não fazê-la levaria essa geração de dirigentes à ser “desprezada” pela juventude. “E com razão”, acrescenta a experiente estadista. “Os outros nos terão por insignificantes. Com justeza”, completou Taubira, para quem se deve tudo fazer para superar as diferenças programáticas.

Incertezas e esperança de reencontro à esquerda. Mas também incertezas gerais em um dos pleitos já visto como o mais incerto da história da chamada 5ª República que instituiu a eleição do seu presidente pelo sufrágio universal na França.

Desde o inicio de Janeiro próximo, com regularidade, Yapmag.net trará a atualidade da campanha, bem como o perfil detalhado dos principais candidatos e reportagens temáticas para melhor contextualizar esta eleição presidencial única entre os países parlamentaristas europeus.

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