Desejo de mudança e medo da volta dos anos de chumbo estavam na cabeça dos eleitores Brasileiros neste domingo de decisão
YAPMAG e You Agency press acompanharam esse segundo turno em Paris e Porto Alegre
Os eleitores brasileiros que residem na França deram a vitória neste segundo turno para Fernando Haddad do Partido dos Trabalhadores (PT), que chegou em primeiro lugar com 2.963 ou 69,4% dos votos válidos. O adversário Jair Messias Bolsonaro do Partido Social Liberal (PSL), ficou com 1.299 ou 30,5% dos votos válidos. Na capital francesa a abstenção foi bastante alta, repetindo o mesmo índice do primeiro turno. No total de 10.995 eleitores inscritos, 6.341, ou 57,67% do total de inscritos, se abstiveram.
“Eu ontem falei com amigos, naveguei na Internet. É realmente Histérico. As pessoas parecem fora de si, algo nunca visto.” Assim definiu o clima eleitoral brasileiro a atriz franco-brasileira Cristina Reali ao deixar a seção eleitoral parisiense. Ela votou em Fernando Haddad do PT, como 69% dos eleitores franceses, a filha do falecido jornalistas brasileiro Elpídio Reali Júnior que se radicara na França durante a ditadura Militar de 1964.
Reali, paulista, se diz triste com o estado do país onde nascera. Ela se preocupada com um comportamento que tacha de “irracional” entre os eleitores brasileiros que votam em Jair Messias Bolsonaro do PSL. Reali se diz igualmente inquieta pela violência que a campanha teria gerado. Verbal e física, diz ela.
“Eles [Jair Bolsonaro] não foram eleitos ainda e [a violência] já começou. É a censura nas universidades, os homossexuais que surrados na rua, de pessoas com bonés [de partidos e organizações de esquerda] que são agredidos. Eu acho que a palavra violenta leva à violência física.”
Cristina Reali admite que seus compatriotas que vivem no Brasil podem criticar o fato de que ela escolha Fernando Haddad sem refletir no dia à dia da população que vive do outro lado do Atlântico. Entretanto ela defende a escolha devido a importância que ela atribui à nova democracia brasileira. “Na verdade, que as pessoas tenham estas idéias [ultraconservadoras] me deixa triste. Este país, com tudo que ele viveu”, suspira e continua, “[Em torno de Bolsonaro], afinal, são militares [que estarão] nos ministérios, nas câmaras [parlamentares]. Me deixa triste”, desabafa a artista cênica.
Quando a cruzamos, no meio da tarde, apesar do ar desolado e tristonho, ela se permitia sonhar como “uma boa surpresa, quem sabe?”. Ainda assim, ele reconheceu que as chances de sucesso de Fernando Haddad eram pequenas. “Mas ainda temos o direito de sonhar, ao menos”!
Reali, que vive há décadas na França, não é alheia a retórica polarizante da extrema direita, que desde os anos 80, vem galgando posições cada vez mais altas nos diferentes pleitos do calendário eleitoral Francês. No entanto, ela acha que se as temáticas “são as mesmas” a intensidade “é desproporcional” no Brasil. “ É mais violento. Talvez, as pessoas [no Brasil] sejam mais demonstrativas, não há respeito, há uma certa vulgaridade nesta campanha”, estima.
Já o gaúcho Victor Baum, de Porto Alegre, não votou mais foi ao consulado para justificar a abstenção. No entanto, ele não deixou de declarar o voto. Ele escolheria, se tivesse podido, Jair Bolsonaro. “Porque precisa de uma quebra de paradigma que mude o status quo de uma elite que não quer mudar no Brasil”, explica.
Ele acusa o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o PT de fazerem parte de um mesmo sistema de interesses e que esta dicotomia, que se alternou no poder, precisaria ser derrota. Quanto às inquietudes de muitos setores da sociedade com o volta, ainda que pelo voto, de militares que defendem até hoje à ditadura de 1964, que falaram em “alto-golpe” durante a campanha [General Hamilton Mourão, vice na Chapa] e que consideram o coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra como um “tipo de herói”, Baum, diz entender, mas se declara tranquilo. “Não vejo o Bolsonaro como uma ameaça à democracia”, afirma
Confrontado com as inúmeras declarações pretéritas do candidato pesselista hostis à democracia no Brasil e elogiosas do regime Militar, da tortura e da execução sumária, o porto alegrense se diz convencido da força das instituições do país, e não acha que um presidente possa impor um novo fechamento político. “Uma pessoa querer, no Brasil atualmente, não há espaço para se instalar uma ditadura. Seja de esquerda ou seja de direita. Ninguém toleraria uma coisa dessas e ele [Bolsonaro] Não teria como levar isso adiante.
“Eu votei no Bolsonaro, porque já existe muito PT. Algo precisa mudar, chega de roubo.”
Neste domingo, 28 de outubro, os brasileiros foram às urnas entre 8h e 17h para escolherem o novo presidente do País. O clima da polarização tomou forma nesse segundo turno em Porto Alegre. YAPMAG e You Agency Press acompanhou duas zonas eleitorais, o Colégio Santa Inês e o Colégio Estadual Anne Frank. A divisão política é vista na vestimenta dos eleitores porto-alegrenses, que são separados pelas cores da bandeira do Brasil apoiando o candidado do PSL versus o vermelho do PT. Porém nem todos apoiadores de Haddad vestem o vermelho.
Manuela d’Ávila (PCdoB), candidata a vice-presidente da chapa de Fernando Haddad (PT), abandonou o vermelho nesse domingo e vestiu uma camiseta branca com a frase, “Nada a temer, senão o correr da luta”. A candidata votou logo cedo e se disse confiante para virada. Em pronunciamento no site do PCdoB, ela agradeceu os eleitores e fez um balanço da campanha.”Esses últimos dias, que marcam a nossa arrancada, foram de tirar o fôlego. Entre ontem e hoje ficou claro de modo definitivo que não se trata de uma escolha simples entre dois partidos. Quanta gente tomou as ruas do país para conversar com as pessoas, dialogar, virar votos. Em um tempo de tanta violência, incompreensão e mentiras, as dezenas de milhares de pessoas que serviram um café para um estranho para bater um papo sobre política fizeram algo de uma dimensão que ainda não podemos calcular. Estou profundamente comovida com isso e cheia de esperança de que este seja o sinal de tempos novos. Também foi muito importante a adesão de uma série de democratas que fizeram questão de deixar clara a sua divergência com o PT, mas declararam o voto crítico em Haddad”, disse a candidata a vice-presidente.
Joseane Almeida, 40 anos, vendedora, foi fardada de Brasil. “Eu votei no Bolsonaro, porque já existe muito PT. Algo precisa mudar, chega de roubo.”
Leia Kampf, 57 anos, aposentada. “No primeiro turno votei no Ciro, porque não queria votar no Bolsonaro e nem no PT. Agora no segundo turno eu votei em branco. Nenhum dos candidatos me representa, eu não quero retrocesso, eu quero novidade.”
Lidiane Costa, 30 an0s, dona de casa. “Estava em dúvida sobre qual candidato votar, mas decidi votar no Haddad pelo trabalho que o PT realizou nos outros governos. Sei que teve várias coisas ruins, mas levei em conta o lado positivo.”
Patrícia Miranda, 35 anos, assessora de imprensa. ” No primeiro turno eu votei no Geraldo Alckmin (PSDB), pois eu gostei do governo dele em São Paulo. Agora no segundo turno decidi votar no Bolsonaro, conversei com a minha família e o sentimento de decepção com o PT é muito forte.”
DF de Paris
CL de Porto Alegre