Briefing#1 A batalha pelo Élysée
Há três semanas o deputado François Fillon, vencedor surpresa da primaria da direita e do centro e ex-premier sob Nicolas Sarkosy, ainda era visto como o grande favorito para a vitória final deste ciclo eleitoral de disputa pela presidência da república francesa. Apesar de uma pequena queda nas intensões de voto de primeiro turno, Fillon gozava de um status de presidente putativo; posto que todas as pesquisas de segundo turno, sistematicamente indicavam uma vitória triunfal face a candidata de extrema direita Marine Le Pen. Esta vista como favorita do primeiro turno e inevitável presença entre os dois finalistas desta à disputa final.
A posição de favorito de François Fillon era, alias, inversamente proporcional à fragilidade da esquerda – dividida após quase cinco anos de presidência François Hollande, um presidente que exibe níveis altíssimo e inéditos de rejeição, tanto assim, que o forçaram à renunciar à uma candidatura em busca da reeleição.
Uma esquerda dispersa entre duas candidaturas – esta do vencedor da primaria do PS Benoît Hamon e aquela do chefe do movimento França Não Submissa Jean-luc Mélenchon – redundantes e incapaz de se unir, somada à sedutora mas enigmática novidade que representa a candidatura ultra-centrista do ex-ministro da economia Emmanuel Macron colocavam o deputado de paris Fillon com o homem imbatível e (quase) eleito.
E então, como seguidamente tem sido o caso nas disputas eleitorais dos últimos temos, o certo, que era liquido, entro em ebulição e começou a evaporar.
As revelações feitas pelo semanário satírico Canard Enchaîné do 25 de janeiro – Relembrando e resumindo: que François Fillon e o suplente do então deputado da Sarthe teriam empregado a esposa do atual presidenciável, entre 1998 e 2012, como assessora parlamentar pela soma total bruta de mais de 700 mil Euros ou uma média de cerca de 5 mil Euros mensais – Marcou o inicio de um período de violenta turbulência que continua de infelicitar a candidatura daquele que já se via na cadeira de chefe do Estado.
A isso, e na tentativa de prevenir e conter possíveis danos à sua imagem, se soma à revelação feita em uma entrevista concedida pelo candidato à uma rede privada de televisão, ainda em janeiro, de que dois de seus filhos também haviam beneficiado de cargos de confiança junto ao então senador François Fillon. Somados, à prole do ex-primeiro ministro recebeu cerca de 85 mil euros em salários pelos supostos serviços prestados.
Os problemas, em tese, não seriam de ordem legal. Empregar parentes ou parentes de amigos ou aliados politico, pasme, não é ilegal quando se é parlamentar da nação aqui na França. Nunca foi.
Em primeiro lugar, François Fillon se construiu politicamente, e em contraste ao antigo chefe Nicolas Sarkosy, como um homem acima de qualquer suspeita. Um lider politico que, pense o que quiser, não tem vocação à virar réu em um processo penal – como o bi-réu Sarkosy (ou Paul Bismouth?).
Além de revelar que o deputado Fillon havia empregado à esposa Penelope por mais de uma década, o Canard Enchaîné, ao bucar prova efetiva do traabalho desta não foi capaz de encontrar uma alma que tivesse visto Penelope Fillon efetivamente cumprir expediente, bater o cartão, no batente etc… Há aqui uma suspeita de mal feito da parte deste haralto da moralidade no trato da coisa publica.
Mas danoso ainda: a impressão de extrema hipocrisia que o caso suscitou. De fato, Fillon, desde cedo na carreira castigou políticos de esquerda como de direita pelo o que ele chamava de uso irresponsável do erário.
O descalabro das costas publicas, segundo o candidato de Os Republicanos, exigia remédio amargo: corte radical do gastos publico, arrochos salaria e fiscal, redução do funcionalismo e da maquina publica.
Em resume e ecoando um outro ex-primeiro ministro, inglês neste caso: Sangue, suor e lágrimas é o que prometia Fillon se eleito fosse. Os sacrifícios seriam pletora para os contribuintes.
Uma plataforma política austera defendida contra todos, por anos e décadas, ao mesmo tempo em que François Fillon se abstinha de praticar o que pregava ao utilizar o dinheiro o eleitor para pagar o salario da esposa, noves fora que ela tenha efetivamente trabalhado ou não. Subito, o candidato do rigor e do sacrificio em nome da reforma do pais perdeu 90% da plataforma política que o conduzira a condição de candidato favorito à presidência da republica.
Durante as ultima três semanas a surpresa que causou a descoberta desta pratica comum à parlamentares mas desconhecida no tocante a François Fillon consternou até mesmo seus mais próximos assessores.
A guerra de clãs no seio do partido Os Republicanos, que havia sido evitado através do processo de primarias, parece à dois passos de ser declarada e de destruir a candidatura do ex-premier bem como a unidade da direita e do centro e as chances da oposição de voltar ao poder. Uma vitória dada como certa é vista como ameaçada pelas revelações, instigações judicias decorrentes e pela perda de apoio junto a opinião.
A falta de alternativa viável – Sarkosy e Alain Juppé, derrotados pelo eleitorado de direita e do centro, não desejam voltar à arena nacional; Jovens lideres pouco consensuais junto aos militantes; falta de rito previsto em caso de necessidade de substituição o escolhido pela primaria – Salvou (ate agora) a candidatura de Fillon.
Mas as consequências nefastas temidas pelo time Os Republicanos se confirmam pesquisa após pesquisa desde que o escândalo veio à tona.
Na ultima rodada da pesquisa conduzida mensalmente pelo jornal de referência Le Monde Fillon perde terreno para jovem candidato Emmanuel Macron, novo favorito para a vitória final e que, apesar de liderar um movimento de cerca de 200 mil aderentes, não tem partido, nunca exerceu u, cargo eletivo e tem no currículo, como única experiencia de alto nível na esfera publica, um recente cargo de ministro da economia que abandonou para perseguir à presidência da república.
Enquanto isso, o sectarismo de Jean-Luc Mélenchon tem impedido uma candidatura única da esquerda em torno do candidato escolhido pelos eleitores socialistas Benoit Hamon. Juntos, Mélenchon, verdes, comunistas e Hamon poderiam, potencialmente, estar liderando as pesquisas de primeiro turno.
A união da esquerda ainda é possível. No entanto, o tempo urge e a candidatura única resta improvável. Alias, o posicionamento da França face à União Européia e a relação desta com Vladmir Putin são questões que diferencial e dividem os candidatos declarados de esquerda nesta eleição.
Marine Le Pen, que também é investigada pela justiça, suspeita de empregar assessores parlamentares fantasmas junto ao parlamento europeu, por que seu eleitorado estaria em “em estado de irritação identitária”, para citar um historiador conhecido no pais, não parece chocado pelo suposto desvio de função em beneficio do partido da candidata e à mantém à frente nas pesquisas de intensão de voto para o primeiro turno.
Se a condição de investigada não parece comover o eleitorado da base do partido de extrema direita seria em decorrência do fato, segundo diversos estudos de opinião e estudos acadêmicos, de que estes eleitores estariam mais preocupados os efeitos supostamente nefastos da imigração que Marine Le Pen promete diminuir drasticamente e do avanço do terrorismo islâmico que a candidata neo-populista jura conhecer a receita para derrotar esta ameaça.
Se a vitória da extrema direita e mais provável que em eleições precedentes todas as pesquisas tem demonstrado que, há menos de três meses do segundo turno, Marine Le Pen deve ser derrota tanto por Fillon quanto por Macron ou ainda Hamon – os três favoritos à segunda colocação no primeiro turno.
O fato de assimilar todo os outros políticos franceses à um mesmo sistema “mundialista” dedicado à destruir a nação em benefício de um “governo” global que buscaria dominar o planeta transforma potenciais aliados de segundo turno em traidores da pátria com quem um candidata patriota não pode encontrar acordo.
A natureza da eleição em dois turnos exige alianças. Marine Le Pen não encontra partidos aliados apenas uma quinta coluna que mereceria ser eliminada do vida publica. Uma forma ríspida de analise do adversário que a coloca em u, dilema que, há 40 anos, tem impedido a vitória do Front Nacional à eleição suprema.
Últimas
Anteontem, fragilizado, François Fillon encontrou Nicolas Sarkosy para pedir a ajuda do ex-chefe do Estado. A primeira pluma política do Jornal Le Monde viu no encontro a prova de que o ex-presidente se tornou o padrinho da direita republicana na França.
O parquet nacional afasta a possibilidade de François Fillon ser exonerado rapidamente das suspeitas de emprego fantasma da esposa e dos dois filhos. As denuncia feitas pelo Canard Enchaîné suscitaram a abertura de um inquérito conduzido pelo ministério publico que, segundo o comunicado dos promotores envolvidos, não terá conclusão expedita, continuando a minar a candidatura do líder da direita.
Fillon se declarou, novamente, inocente e fustigou a legitimidade do parquet anti-corrupção de investigar o deputado, argumentando que o inquérito é uma afronta ao principio de independência do legislativo.
Novas revelações continuam de fragilizar a campanha Fillon. Thierry Solère e suspeito de sonegação fiscal, novas duvidas sobre palestras pagas dados por Fillon agitam a imprensa Além do novo foco dado aos investigações de um possível trafico de influência exercido por Fillon em favor da condecoração de uma grande fortuna francesa.
Hamon diz que entrara em contato com Mélenchon mas não se disse pronto à renunciar a candidatura em favor de uma aliança de primeiro turno com candidato de extrema esquerda.
Segundo o Le Monde, apesar da aparente mansuetude da candidatura Marine Le Pen à campanha sofreria de desorganização crônica e estaria preocupada com possibilidade de não obter as 500 assinaturas de eleitos nacionais requerida pela justiça eleitoral, o que ameaçaria a líder populista de inelegibilidade.
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