Emmanuel Macron contra Marine Le Pen no segundo turno da presidencial francesa
Emmanuel Macron e seu movimento “Em Marcha!” caminharam em direção da vitória no primeiro turno da eleição presidencial francesa derrotando a favorita Marine Le Pen. O ex-ministro da economia sai na frente e troca de papel com sua adversária que agora, ao ver se reformar a Frente Republicana de todos os partidos contra o perigo do Front National, é o azarão do segundo turno.
A derrota do Partido Socialista (PS) e do Partido Os Republicanos (LR) é um marco histórico da vida política francesa sob à constituição de 1958. Nunca antes, desde a instauração da eleição direta para a presidência, as duas grandes formações foram eliminados da etapa final simultaneamente.
De acordo com todos os institutos de pesquisa, Emmanuel Macron contra Marine Le Pen era o cartaz anunciado para o segundo turno desta eleição presidencial francesa repleta de surpresas e incertezas. Este 23 abril confirmou um elenco histórico visto que, de maneira inédita, PS e LR que estruturam a vida política da França estão eliminados da disputa final pelo direito de dirigir o pais pelos próximos cinco anos.
Emmanuel Macron, último dos candidatos favoritos à se exprimir, diante uma plateia de militantes eufóricos, felicitou os eleitores que o colocaram em primeiro lugar com 24% dos votos validos. Para o finalista do concurso presidencial, de maneira geral, a população respondeu as ameaças que espreitam o país “das mais bela maneira possível, indo votar em massa”. Uma referência ao bom indice de participação tido como mais uma surpresa deste escrutínio que se dizia fadado ao recorde de abstenção de acordo com as pesquisas eleitorais.
Marine Le Pen, quanto à ela, também considera sua qualificação como histórica. Face à milhares de eleitores du Norte da França convidados para ocasião, desde as primeiras palavras, a candidata estendeu à mão “à todos os eleitores sinceramente patriotas” à quem pediu à confiança e o voto em duas semanas.
Mais adiante, ela resumiu assim a disputa por vir: “Os franceses tem uma escolha muito simple: Uma liberalização total, a imigração total, a circulação livre de terroristas, o reino do rei capital. O que eu proponho é a mudança que colocara no poder novas caras. Não é, evidentemente, com o herdeiro de François Hollande que esta mudança chegará. É chegado o temp de liberar o povo francês das elites arrogantes que querem lhe ditar como se conduzir. Sim, eu sou a candidata do povo. Eu lanço um apelo à todos os patriotas franceses para que se juntem-se à nós, saiam das querelas que pereceram. O essencial que esta em jogo: a sobrevivência da França.”
O parágrafo concentra a única estratégia possível que se oferece a candidata de extrema direita. Por denunciar toda a classe política do país Le Pen não conta com aliados que possam endossar sua candidatura. Alias, minutos antes em Paris, os candidatos derrotados do PS, Benoît Hamon, e do LR, François Fillon, instaram seus militantes à votar em Emmanuel Macron para barrar o caminho do Front National.
Daí um apelo direto aos eleitores, que por patriotas, poderiam fugir das orientações de voto dos partidos e de lideres políticos e escolher a candidatura da deputada européia. Daí também a caracterização de Emmanuel Macron como o candidato preferido do presidente François Hollande. extremamente impopular, Hollande desistiu de brigar pela própria re-eleição. Macron: o candidato da situação ao mesmo tempo que Marine é a verdadeira mudança.
Os ataques ao liberalismo admitido do vencedor do primeiro turno prepara um outro tema de predileção da filha de Jean-Marie Le Pen: A União Européia que, para o FN, infelicitaria o povo francês. Ela denuncia o “capital rei”, a “circulação livre de terroristas” por uma Europa sem Fronteiras, a “imigração total. Mazelas, na visão da extrema direita, que se abatem sobre o país à mercê de uma Europa, supostamente, burocrática e intrusiva, decidindo de forma ilegítima no lugar do povo dos destinos da nação.
Marine Le Pen se disse, durante toda a campanha e há muito tempo, que o debate entre os “patriotas” contra os “mundialistas” lhe sera favorável e lhe fará desmentir as pesquisas eleitorais e sair da armadilha do isolamento político que a postura anti-sistema a coloca.
Emmanuel Macron, que se eleito será o mais jovem presidente da história da república, logicamente, acredita que ele é a verdadeira mudança que espera o eleitor. Afinal de contas, contrariamente à sua adversária e o partido que ela representa, ele não tem 40 anos de vida política a exibir no currículo. Ele não tem 40 anos de vida, ponto.
O candidato de “Em Marcha!”, que não se vê como um “mundialista” repondeu assim: “há apenas uma França, de patriotas, dentro da Europa que protege”. Forma de desarmar o argumento central da candidatura de extrema direita que associa patriotismo ao nacionalismo integral que ela defende.
Neste sentido, Macron disse mais: “Eu ouví as aspirações por uma verdadeira mudança, à vitalidade democrática, à exigência ecológica e econômica. Para construir uma França mais forte, uma Europa que protege e eu precisarei da confiança de vocês.”
A escolha realmente, com uma tal resposta, é claro. Um candidato quer “relançar à construção européia” a outra defende “o retorno da nação”.
Mais profundamente, este resultado detona o equilíbrio político da França. O regime proposto pelo falecido general Charles de Gaulle e aprovado pelo povo em referendo em 1958 teve suas instituições concebidas sob medida para uma bipolarização em torno de dois partidos majoritários com partidos aliados compondo uma coalisão de governo em coerência com a corrente ideológica do presidente eleito.
Com a escolha feita hoje (23 de abril) pelos eleitores, de elevar à condição de finalistas dois candidatos fora do sistema de partidos tradicionais da esquerda ou da direita, um período de reorganização, recomposição e mesmo de refundação se vislumbra pra além do horizonte próximo da eleição presidencial.
Neste sentido, as eleições legislativas deste verão europeu se anunciam imprevisíveis e colocam em duvida a capacidade do eleito à magistratura suprema de retirar das urnas uma maioria parlamentar o que ameaçaria a a governabilidade.
Na direita, cujo candidato orientou seus eleitores a fazer barragem ao FN e votar em Emmanuel Macron, devera entrar em uma fase de crise existencial e de guerra de caciques. Tanto a liderança quanto a linha política, por derrotadas, serão objeto de disputa fratricida na esteira desta sequência eleitoral catastrófica para a família política fundadora da quinta república.
À esquerda, a paisagem não é mais florida. O candidato do PS, partido da situação, Benoît Hamon, é o socialista com o escore mais baixo de todos desde Gaston Défère e seus 5% em 1965. Com uma plataforma próxima à de Jean-Luc Mélenchon, representante da esquerda radical francesa, Hamon teve seus votos vampirizados pelo voto útil em favor de Mélenchon que acabou à dois por cento do segundo turno.
Como o Partido Comunista no passado, estaria o Partido Socialista conhecendo seu ocaso? O próximo secretário geral do partido de François Mitterand, Mendès France e Jean Jaurès será um reconstrutor ou o coveiro desta instituição centenária?
A democracia francesa se vê desafiada de maneira fundamental, também, pelo forte percentual de votos que as candidaturas de Macron, Hamon, Mélenchon e Le Pen juntas obtiveram no que diz respeito à prática e as regras de funcionamento das instituições.
Apesar de diferentes, as plataformas destes candidatos contém uma contestação à forma de escolha dos eleitos, ao nível de participação direta dos eleitores nas decisões tomadas em seu nome ou dos dispositivos de protesto contra os atos dos eleitos da nação.
Alias, a luta pela proclamação da Sexta República pelo movimento da “França insurreta” De Jean-Luc Mélenchon explica a incapacidade do líder derrotado de conclamar os militantes à votar por Emmanuel Macron como todos os outros candidatos derrotados na noite de domingo fizeram sem titubear.
Como explicou a porta voz do movimente de esquerda radical, Raquel Garrido, o objetivo da “França Insurreta” é de “acabar com o regime da Quinta República”. Como escolher um presidente que, diferentemente de Mélenchon, quer ser presidente do inicio ao fim do mandato e não renunciar assim que o país se dotara de uma nova constituição fundadora da nova república sonhada.