Edouard Philippe diz que sem consenso taxa dos combustíveis será definitivamente abandonada
O clima continua tenso na França sacudida há mais de 3 semanas pelo movimento dos Coletes Amarelos (CAs). Os anúncios feitos ontem pelo primeiro ministro Edouard Philippe não parecem ter arrefecido a determinação dos porta-vozes conhecidos do movimento nem tampouco dos adeptos da revolta fiscal e social.
Tentando corrigir o tiro de ontem, Philippe se exprimiu da tribuna da Assembleia Nacional durante uma sessão de debates sobre a crise que começou em oposição à taxa Ecológica sobre os combustíveis mas que se tornou a plataforma para o lançamento de múltiplas reivindicações, para o grito de antigas frustrações e para a explosão de raivas individuais e coletivas. O premier tenta retomar o controle da narrativa em torno das concessões acordadas pelo executivo. Ele quis demonstrar que elas não são vocacionadas à “adormecer ou enfraquecer” o ímpeto dos Coletes Amarelos mas à abrir um debate amplo para encontrar repostas que atendam às demandas sociais suscitadas pelo movimento.
Neste sentido, desde logo, Philippe assegura que, se um acordo não for encontrado após as negociações que ele pretende organizar à partir de 15 de dezembro, “nós não restabeleceremos a taxa”.
O discurso diante da representação nacional foi um exercício de pedagogia mais do que uma oportunidade de propor novas concessões que pareçam populares entre os manifestantes, sindicatos nacionais de trabalhadores ou responsáveis políticos. Medidas como a pura e simples derrogação do novo imposto ecológico, um aumento e não reajuste do salário mínimo, a revalorização das pensões de aposentados ou ainda o retorno do Imposto social Sobre a Fortuna (ISF).
Certo de que os anúncios do dia anterior são uma prova de abertura e de desejo de diálogo da parte do executivo, o primeiro ministro insiste que a hora e a de passar a mesa de negociação. Sobre tudo, as manifestações marcada para o próximo sábado, dia 8 de dezembro, em Paris, mas não somente, ainda preocupam as autoridades.
“Todos os atores do debate público terão que prestar contas das suas declarações. Sim, eu lanço aqui um chamado à responsabilidade”, declarou Edouard Philippe. Apesar de não dar sinais de novos recuos, o premier deseja, com a ajuda dos outros partidos e lideranças sociais, convencer os Coletes Amarelos mais refratários à se afastar das ruas da Capital no sábado próximo.
Mesmo tom emanou do lado do palácio Elysée. O porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, em coletiva pela manhã, transmitiu mensagem do presidente Emmanuel Macron que pede “às forças políticas, sindicais, ao patronado de lançar um apelo claro e explícito à calma”.
Ontem o ministro do Interior informou aos senadores da comissão de Leis do Senado que o dispositivo em elaboração para a nova jornada de protestos terá o efetivo de 65 mil policias à disposição atualmente reforçado, mas, sem evocar cifras. Hoje, ao concluir sei discurso, Philippe preveniu os “facciosos e agressores” que as forças da ordem “serão intratáveis”. “Eu posso ouvir a cólera [dos CAs] e eu não posso aceitar a violência”, fechou os 25 minutos de tribuna.
O macronismo é uma jactância
Face à meia hora de uma defesa sem auto crítica da ação do governo – visto por Edouard Philippe como em prol do poder aquisitivo e da justiça social – o chamado à calma pareceu cair em ouvidos moucos.
Para o líder do partido Os Republicanos, Christian Jacob, o “macronismo”, no texto, “é uma jactância”, disparou da tribuna. Ele se queixou da “arrogância” e da postura “vertical” do executivo.
Ele não pretende advogar por uma trégua junto aos Coletes Amarelos. na opinião de Jacob o presidente da república deveria assumir este papel de conciliação por que ele seria o responsável pela revolta atual. “É ele e ele somente que tem culpa pela crise (…) Emmanuel Macron esta com as costas contra o muro e com o povo em fronte. A sua responsabilidade é histórica”, estimou.
Melodia similar da parte da presidente do partido extremista Rassemblement Nacional (RN) Marine Le Pen que diz que o culpado pela escalada da violência é o executivo. “São eles os verdadeiros responsáveis, que atiraram o povo francês na rua, que não podem proteger os manifestantes. Eu achei [que o apelo à calma] é bastante indigno.” Ela pensa que não tem lições a receber e que “cada um tem que se colocar no seu lugar”.
Jean-Luc Mélenchon, o tribuno exaltado que dirige o partido de esquerda radical La France Insoumise (LFI) tem ainda menos intensão de dar uma mão ao governo na busca de pacificar às ruas. Ele, sem ambiguidade, regozija da agitação das últimas três semanas.
O discurso do primeiro ministro, definiu Mélenchon, lhe pareceu “um balanço final antes do adeus”. Para o deputado LFI “a França, enfim, entra em uma fase de não submissão generalizada contra um sistema injusto que já durou muito tempo.” Com deboche, o chefe da esquerda radical estimulou os Coletes Amarelos à não renunciar às manifestações de sábado, independente dos custos. “Vão às ruas e digam ao monarca [Emmanuel Macron] que as pessoas razoáveis estão nas ruas (…) e que permanecerão”, eructou. “Ceda ou parta”, conjurou, Jean-Luc Mélenchon, o executivo.
Já o chefe do Partido Socialista (PS) Olivier Faure não vê a crise atual como o fato único dos erros da atual administração. Contudo, face ao primeiro ministro Philippe, ele afirma que o executivo “agravou a situação em poucos meses”.
Sem pedir o fim das manifestações, Faure concedeu que, governo e a oposição, “tem uma responsabilidade compartilhada: a de engajar o diálogo”. O que almeja o primeiro secretário do PS é que “todos [os assuntos]” vão à mesa de negociação. Que os temas mais amplos, que ultrapassaram as demandas fiscais iniciais do movimento do Coletes Amarelos, sejam amplamente discutidos, sem tabus e que eles fundem “um novo pacto social, político e social e ecológico”. Por fim, o deputado socialista disse acreditar que a “solução é à justiça e a igualdade”.
O governo não ouviu ecos pela pacificação vindas da oposição e nem tampouco da parte de porta-vozes conhecidos do movimento Coletes Amarelos que se multiplicam pelos estúdios de tevê e rádio ou ainda pelas plataformas públicas da Internet ou redes sociais. Estes ativistas mais loquazes dizem coisas assim: “Nós vivemos um momento histórico. Pelo fato que o ministério do Interior não é capaz de fazer o seu trabalho isso seria uma razão para que os franceses que querem manifestar livremente não o façam. A responsabilidade total da manutenção da ordem e do direito de manifestação incumbe ao ministro do Interior”. É o que pensa, por exemplo, Jean-François Barnaba, representante Colete Amarelo do departamento de Indre no centro do país.
Para Barnaba, ainda que temeroso das consequências nocivas que uma nova jornada de manifestações podem desencadear, ele pensa que à unica saída para o retorno da calma no país são novos gestos fortes da parte do executivo. Se o governo, ensina, “quiser evitar uma catástrofe [nas ruas] (…) que eles anunciem medidas em favor da melhoria do poder aquisitivo e com efeito imediato”.
O emblemático caminhoneiro de Melun Éric Drouet, ontem (4 de dezembro), durante uma transmissão ao vivo através da página Facebook do Colete Amarelo, defendeu a manutenção da pressão pelas passeatas face as concessões atuais feitas pelo governo. “Sábado que vem, acabou. Sábado que vem, será o dia do resultado final. Sábado que vem, somos nós que decidiremos o que vai se passar.”, convida à audiência à continuar na rua. Um tom triunfalista que se escuta com frequências nas passeatas.
Outros movimentos
A revolta estudantil prossegue nesta quarta-feira e se espalha pelo país. O ministério do Educação estimou em 500 o número de colégios do ensino médio bloqueados pelos secundaristas. O jovens estudantes reclamam a anulação da reforma das regras de acesso ao ensino superior na França.
Em um episódio grave, na cidade de Gardes-lès-Gonesse no vale do Oise, um estudante de 17 anos foi atingido por uma bala de borracha disparada pela polícia de choque chamada para controlar a situação em frente a escola local. A Prefeitura de Polícia afirma que o jovem não corre risco de vida mas terá que passar por operações cirúrgicas.
Já em paris, os universitário protestam, contra o aumento da anuidade para certos alunos estrangeiros anunciada pelo governo há duas semanas. Três universidades foram ocupadas.
Também pela manhã de hoje, a central sindical CGT convocou os caminhoneiros que representa à uma paralisação, à partir de domingo, sem prazo previsto para o retorno ao trabalho. O temor de uma unificação das lutas ronda o governo mais ainda não se observa.
DF de Paris