Apesar dos pedidos de trégua do governo e oposição Coletes Amarelos mantém nova jornada de manifestações prevista para o sábado
Divididos quanto às concessões apresentada pelo presidente da república Emmanuel Macron, representantes moderados e radicais do movimento de revolta fiscal, social e política discordam sobre os rumos à seguir.
Coletivo “Coletes Amarelos Livres” defendem à trégua e corrente “A França em Cólera” defende o prosseguimento do movimento nas ruas e piquetes pelo país.
Ameaça terroristas em alta após atentado de Estrasburgo e estafa policial não demoveu os mais exaltado dentre os Coletes Amarelos.
As pesquisas de opinião conhecidas durante a semana mostram que metade dos franceses desejam o prosseguimento do movimento dos Coletes Amarelos (CAs), mesmo após as concessões feitas pelo presidente Emmanuel Macron nesta-segunda (10 de dezembro). Inversamente, na média das consultas de opinião, metade da França deseja uma trégua.
Os sindicatos policias, em vista da grande mobilização das forças de ordem na busca pelo suposto responsável pelo ataque ao mercado de natal de Estrasburgo, Cherif Chekatt, abatido esta noite, e na proteção de outros eventos natalinos contra a réplica terrorista, convidam os CAs à permanecer em casa.
Membros do coletivo “Coletes Amarelos Livres”, mais moderado, desejam deixar às ruas e sentar na mesa de negociação com o governo conforme propôs o primeiro ministro desde a semana passada. Desde terça-feira (11 de dezembro), uma das musas moderadas dos CAs, Jacline Mouraud, disse ter visto “uma porta aberta para o diálogo”. A bretã desejou uma “trégua”.
Hoje, a hipnoterapeuta considera que as mesmas portas estariam “escancaradas” e protestar nos piquetes em rotatórias pelas estradas do país seria “não somente inútil mas perigoso”. Certamente uma alusão à morte de um militante no sul da França, atropelado por um caminhoneiro polonês que pensou que o ativista era um criminoso. O caso é investigado pelas autoridades locais.
No entanto, o chamado 5° ato dos Coletes Amarelos, continua nos plano da franja mais radical do movimento. Personagens com grande influencia nas redes sociais como o teorista de complô Maxime Nicolle, o caminhoneiro de Melun, Éric Drouet ou ainda Priscillia Ludosky – membros do coletivo “A França em Cólera” – se dizem insatisfeitos com os anúncios de Macron. Hoje à tarde, Ludosky, em coletiva ao lado de Nicolle, disse que o chamado à manifestar é “mantido”.
A plataforma deste grupo histórico exige à baixa generalizada dos impostos e uma diminuição dos “privilégios (…) presentes e futuros dos autos funcionários” do país. Eles também continuam à exigir reformas políticas, em especial a criação do referendo de iniciativa popular ou RIP.
Benjamin Chauchy, um outro moderado, esteve hoje na Assembleia Nacional para negociar um projeto de lei que inscreva na lei do país as concessões apresentadas nesta semana. Apesar de rejeitar os métodos do coletivo da “France em Cólera” ele pensa que estas diferentes correntes e ações não são opostas mas “complementares”. Mesmo se dizendo em consonância com o espírito geral de todos os Coletes Amarelos o comerciante não recomenda que os camaradas CAs manifestem em Paris no próximo sábado.
Se outras considerações não fossem suficientes, o contexto pós atentado de Estrasburgo levou 90% da classe política francesa a pedir para que os líderes de opinião do movimento suspendam o protestos em Paris e em outras grandes aglomerações como Bordeaux ou Toulouse que conheceram o caos nas ruas durante todo o último sábado de manifestações. Apenas os responsáveis do partido La France Insoumise (LFI) insistem em apoiar o movimento e desejar a continuação. O deputado de Seine-Saint-Denis Éric Coquerel não “vê o porquê” que levaria à uma forma de moratória da parte dos Coletes Amarelos. “Eu penso que a melhor respostas à dar (ao terrorismo) é que o nosso país não ceda em nada do seu modo de vida, de democracia e de confrontação social”, resumiu a posição do LFI.
A extrema direita de Marine Le Pen também chama os militantes CAs à responsabilidade. A presidente do Rassemblement Nacional (RN) Le Pen, por outro lado, sem apoiar uma nova manifestação, ela garante que continua à apoiar o movimento.
Em Bruxelas, Emmanuel Macron, em margem do Conselho Europeu, afirmou que “nenhum país pode avançar se ele não ouve a raiva legitima” do povo. Entretanto, apesar do esforços consentidos, o chefe do Estado garantiu que sua linha de rigor fiscal e recuperação da competitividade do país deve ser mantida. Macron inicia esta conferência entre os 27 chefes de Estado membros da Comunidade Européia enfraquecido pela crise. Prova pelos números – uma pesquisa do instituto IFOP publicada hoje revela que o presidente francês despenca na estima dos franceses. Apenas 20% dentre os consultados aprovam a ação de Emmanuel Macron.
Em Paris, o porta-voz do governo Benjamin Griveaux, em vista do clima de insegurança e do cansaço das tropas de polícia devido ao mês de protestos violentos no país, pediu aos Coletes Amarelos para “serem razoáveis no sábado e não irem manifestar”.
Atentado e complô
Na sessão de ontem na câmara baixa do Parlamento francês o deputado situacionista do partido La République en Marche (Lrem) Bruno Stunder, originário da região do Bas-Rhin, abriu a rodada de perguntas ao governo assim: “Eu exprimo a nossa vergonha e a nossa indignação face aos que gritam ‘complô de Estado’ e gostariam que fosse a República que tivesse organizado este atentado. Estes, no conforto indecente do anonimato nas redes sociais, por trás de uma tela de smartphone ou de um teclado de computador, estes, dão prova de indignidade.”, declarou, aos prantos.
O parlamentar, que foi aplaudido de pé por todo o hemiciclo Assembleia Nacional, reagia a uma tendência que nasceu desde os primeiros minutos após que a noticia do tiroteiro de Estrasburgo foi conhecida: O governo é responsável.
Isso porque, desde as primeiras horas, certos grupos Facebook de Coletes Amarelos ventilavam, em comentários à baixo de postagens, que o atentado teria sido orquestrado pelo governo francês. Uma forma de “manipulação” diziam uns, de “quebrar [o movimento] dos Coletes Amarelos”. Ou ainda, uma artimanha para “decretar o Estado de Emergência e impedir as manifestações” de sábado que vem que se avizinham. O ministro do Interior Christophe Castaner afastou esta hipótese.
O mesmo Maxime Nicolle, que ainda hoje continua à convocar a mobilização para o final de semana, publicou na quarta-feira, um vídeo no muro do grupo Facebook “Fly Rider Infos Blocage” que gerencia, no qual ele também contesta a “versão oficial” que atribui ao atacante veleidades terroristas. “Indaguem-se, o cara que quer cometer um atentado, verdadeiramente, ele não espera que tenham 3 pessoas na rua à noite, às 20 horas. Ele vai bem para o meio da Champs Elysée, quando tem milhões de pessoas e se detona. Isso é um verdadeiro atentado”, acredita saber o militante Colete Amarelo influente em meios radicais e “complotistas” do movimento.
Este clima de desconfiança vis-à-vis do poder é uma marca dos coletivos mais radicais deste movimento “proteiforme”, como muitos dos membros o definem, é o que obrigará o Estado à empregar os mesmos recursos colossais para evitar cenas de guerrilha urbana nas ruas da Capital e outras metrópoles do pais.
Na semana passada, 8 mil policias foram mobilizados em Paris e 90 mil em toda a França. Mais móvel, e com estratégia mais proativa, a tropa de choque e outras unidades de apoio realizaram um número recorde de prisões – cerca de 1300 na Capital – com o objetivo de impedir que ativistas mais agressivos penetrassem no perímetro de segurança reservado aos manifestantes. No entanto, apenas uma centena de casos se traduziram em denúncia criminal e condenação nos Juizados de Pequenas Causas Penais de Paris.
Os réus condenados e liberados graças à um sursis foram encontrados com as mochilas repletas de artefatos de fogo como foguetes de mão, morteiros ou bombas de fumaça, bem como esferas metálicas, porcas de parafusos até mesmo um cassetete. Como explicamos aqui, o porte destes objetos aliado a proximidade à uma manifestação de protesto qualificaria o desejo de participar à um bando em vista de cometer atos de violência – o que desde 2010 é um crime na França.
O repórter freelancer que trabalha para o jornal Libération Vincent Glad, um especialista das redes sociais e dos movimentos sociais ali nascidos, em sua conta no microbloging Twitter chamou atenção para o fato de que diversos grupos Facebook com grande frequência fecharam as postagem para a publicação de mensagens. “Para reestabelecer à ordem”, devido ao fluxo incessante de comentários de tom confabulatório e “desrespeitoso” para com as famílias enlutadas pela tragédia terrorista de Estrasburgo.
Os sinais, como se vê, são cruzados. O que é certo é que haverá mobilização nas ruas de Paris no sábado que vem. O quão numerosos serão os Coletes Amarelo e o quão violentos serão os protestos determinará a tendência deste movimento sem chefes mas com centenas de capelas virtuais dotadas de centenas de pastores com sermões variados.
DF de Paris