Assembleia Nacional Francesa transforma em lei as concessão feitas aos Coletes Amarelos
Projeto aprovado ratifica concessões do executivo feitas durante as cinco semanas de crise. Mesmo com os Coletes Amarelos divididos, uma sexta jornada de protestos está prevista para amanhã.
Na madrugada de quinta-feira (20 de Dezembro) para sexta-feira (21 de Dezembro), a Assembleia Nacional francesa aprovou projeto de lei que ratifica todas as concessões feitas pelo executivo durante as cinco semanas de crise desencadeada pelo movimento dos Coletes Amarelos (CAs). Para que os anúncios feitos pelos chefe do executivo, Edouard Philippe, e pelo chefe do Estado Emmanuel Macron, passassem à vigorar já em janeiro. A medida precisava ser votada até o dia 21 do mês.
Premidos pelo tempo, os deputados consentiram à uma sessão de final de ano longa e agitada. Apesar de conhecidas, as medidas, que permitiram à uma parte do movimento dos Coletes Amarelos aceitar a trégua pedida pelo governo durante os próximos três meses de debates previstos pelo executivos, foram objeto de retoques, idas e vindas durante esta semana.
O projeto final que foi votado recebeu acerbas críticas das oposições da extrema direita à esquerda radical. Ao revelar os contornos finais da revalorização em 100 euros mensais da renda dos assalariados que recebem o salário minimo ou pouco mais que este valor – o anúncio mais significativo, apresentado em cadeia nacional de tevê por Emmanuel Macron – o líder da bancada do partido de direita Les Républicains (LR) Christian Jacob, se disse decepcionado com o projeto. O chefe LR não só classificou as medias de insuficientes, mas chegou também à acusar o governo de “tentar mentir e enganar os franceses” através das modalidades de aplicação destas propostas formuladas tem uma semana.
Já a deputada do partido de esquerda radical La France Insoumise (LFI) de Seine-Saint-Denis, Clémentine Autain, criticou o governo que ela acredita estar apenas “ressuscitando velhas medidas do velho mundo, aquelas de [Nicolas] Sarkosy”. Em especial, na mira da parlamentar, a isenção fiscais sobre as horas extras, medida emblemática da era Sarkosy que fora abolida sob o predecessor François Hollande.
O que esperar do “VIº Ato” dos Coletes Amarelos?
Como nós explicamos aqui nas páginas deste magazine, o movimento, desde as concessões reveladas por Macron, tem duas semanas, se dividiu em pelo menos dois campos distintos. Os moderados do “Coletivo dos Coletes Amarelos Livres”, que aceitam o principio de concertação política través dos três meses de debates regionais sobre o poder aquisitivo, reforma fiscal e política e o futuro da transição energética na França.
Do outro lado se destaca um grupo mais radical, composto principalmente de porta-vozes “históricos” do movimento reunidos em torno do grupo Facebook (FB) “A França em Cólera”. Estes últimos querem continuar à luta em busca do RIC, ou referendo de Iniciativa Cidadã – principal reivindicação política aos olhos dos “coléricos”.
No início da semana, por exemplo, o caminhoneiro de Melun, criador do evento FB “inaugural” da revolta fiscal dos CAs, Éric Drouet, defendeu que o movimento “esvaziasse Paris” e consultou os seguidores do grupo Facebook que administra à escolher um novo ponto de reunião e manifestação.
Inicialmente, os Internautas consultados por Drouet, fecharam em torno da proposta de manifestar em frente à redação do canal de jornalismo 24 horas por dia BFMTV – “bête noire” dos Coletes Amarelos que são hostis ao jornalismo em geral e a esta rede de tevê em particular. Rapidamente, o projeto foi abortado, sem grande transparência e com grande cacofonia no seio do grupo Facebook.
Até o fechamento desta matéria, o que se sabia era que, finalmente, a cidade de Versalhes tinha sido o ponto escolhido para o protesto semanal dos Coletes Amarelos “em cólera”. As autoridades já anunciaram o fechamento do célebre castelo de Luís XIV – o chamado Rei Sol – além de medidas de segurança, em vista de uma operação de manutenção da ordem. Contudo, nem o afluxo, nem tampouco o nível de violência potencial da manifestação podem ser estimados com grande certeza. O que é claro é que uma parte dos ‘radicais” continua a ter símbolos históricos de revoluções passadas como alvo na escolha do local para se reunirem.
Outra figura histórica do movimento, a micro-empresária parisiense Priscillia Ludosky, que lançou, tem 6 meses, o abaixo assinado contra a agora extinta taxa Ecológica que incidiria sobre o preço dos combustíveis, sugeriu que os companheiro de luta “vão às fronteiras” terrestres da França para bloquear a passagem de caminhões de carga em uma iniciativa de “unificação européia do movimento”, explicou a porta-voz da “França em Cólera”.
Interiorização do movimento
De acordo com a rede de jornalismo France Info, um meme tem circulado nas redes sociais conclamando, como já havia feito Éric Drouet, à uma “Jornada Paris Vazia”. No entanto, a ideia seria se concentrar em 14 cidades do interior da França para causar um “efeito de massa”. À exemplo da manifestação de Versalhes, é difícil estimar a vitalidade dos Coletes Amarelos há menos de uma semana do Natal e após o relativo fracasso do que se chamou de “Vº ato” na semana passada.
No sábado anterior, após uma semana marcada por um atentado terrorista no noroeste da França e pelos anúncios do chefe do Estado que ampliam as concessões feitas aos ativistas em amarelo, o movimento conheceu um refluxo importante. No nível nacional os CAs foram 66 mil à manifestar. Já em Paris, que foi palco de 3 finais de semanas caracterizados pela grande violência de uma parte dos militantes contra as forças da ordem, monumentos, veículos e mobiliário urbano além de saques ao comércio, não viu mais de 2 mil e 200 Coletes Amarelos em toda a cidade.
Como comparação, uma semana antes eles foram 160 mil em toda França e 8 mil na Capital. No ato inaugural, dia 17 de novembro, Os CAs nas ruas foram quase 300 mil. Todos estes números foram fornecidos pelo ministério do Interior e pela Prefeitura de Polícia de Paris (PPP).
Alias, o ministro do Interior Chistophe Castaner, invocando o balanço final das cinco semanas de protestos – que fez 9 mortos na França hexagonal – estimou que “tudo isso precisa acabar”. Na avaliação do chefe do Interior “todo o francês, que ele seja um Colete Amarelo ou não, deve, agora, encontrar os meios para o apaziguamento. Eles [os meios para apaziguar] estão reunidos”, concluiu Castaner.
Nota: A amanhã, em virtude de um esperado refluxo do movimento em Paris e na região metropolitana, da qual faz parte Versalhes, YAPMAG não previu um dispositivo de reportagem para esta 6ª jornada nacional de protestos. Entretanto, em caso de grande presença de Coletes Amarelos na antiga sede da corte real francesa extinta em 1848, ou de grave conflito, nós poderemos decidir de mobilizar nossa redação. Fiquem atentos!
DF de Paris