O subchefe de gabinete de Macron é o pivô de uma crise política inesperada

As centenas bicicletas multi-coloridas do Tour de France que singram a superfície do país neste meio do mês de julho são o indício anual incontroverso da chegada das férias e da alta temporada estival. Um período de recreio coletivo e de trégua onde os assuntos correntes se deslocam da arena política para a seara do frívolo, do epicúrio e do efêmero.

No entanto, uma revelação do vespertino de referência da França, o jornal Le Monde, colocou em eferverscência os representantes da nação e abriu uma crise política raras vezes vista neste período veranil.

A foto mostra o chefe de Segurança, Alexandre Benalla ao lado de Vincent Crase, também segurança de Macron agredindo um protestante, no dia primeiro de maio em Paris. (foto: Naguib-Michel Sidhom/AFP)

Alexandre Benalla, subchefe de gabinete encarregado da proteção pessoal do chefe do Estado, foi identificado, em vídeo amador, como o agressor de um jovem que participava de um protesto de origem estudantil relacionada às comemorações anuais do dia do trabalho (1° de Maio). Com o rosto parcialmente encoberto por um capacete tipicamente utilizado por policiais das tropas de choque, esse assessor próximo a Emmanuel Macron, apesar de punido internamente desde o início do mês de maio, não teve sua identidade conhecida do grande público imediatamente.

Crise Política

Nesta quarta-feira (18 de julho), a revelação do Le Monde perturbou a típica calmaria estival que costuma reinar no meio político parisiense nesta época do ano. A punição branda (15 dias de suspensão sem salário e mutação), apesar de célere, e a misteriosa missão de observação que colocou este guarda-costas reconvertido em subchefe de gabinete junto a oficiais de polícia em ação durante uma passeata estudantil que degenerou em violência campal alimentam as críticas ao governo e ao palácio do Elysée.

Os primeiro meses de 2018 virão a eclosão de diversos movimentos de contestação da ação governamental que sacudiram, em especial, o meio universitário, com ocupações de campus, confrontos com a polícia e manifestações de rua – muitas vezes entremeadas de episódios de violentos embates entre manifestantes e agentes das forças de ordem.

Por razões ainda desconhecidas, Alexandre Benalla acompanhava, como observador, as  tropas de choque da polícia militar francesa durante as manifestações de protesto. O que intriga a todos é o fato de que Benalla, chefe do serviço de proteção pessoal do chefe do Estado, não estava encarregado da repressão à violência de rua durante passeatas e manifestações.

Além do mais, como revelou France Inter, Macron, o chefe de gabinete do presidente (e superior hierárquico de Alexandre Benalla) e o Ministro do Interior Gérard Collomb, foram inteirados do episódio que resultou na punição do guarda-costas da presidência, mas não levaram ao conhecimento das autoridades judiciárias para abertura de inquérito como, de acordo com a lei administrativa francesa, seriam obrigados. O porta-voz do Elysée justificou inação pelo fato de que a avaliação, à época dos fatos, era de que os atos do servidor não caracterizavam conduta criminosa.

Uma frente informal pluripartidária se formou em 24 horas e as acusações de abuso de poder, de impunidade e de incompetência, além dos pedidos de demissões de assessores do palácio Elysée e de membros do governo, espalharam-se como em um rastilho de pólvora. Na esteira da indignação coletiva da classe política, inclusive no interior da maioria macronista, a presidência da república comunicou que um processo de demissão foi iniciado contra Benalla. Além disso, desde hoje (20 de julho), também é investigado pela polícia judiciária por agressão em bando cometida por agente público, usurpação de função e porte ilegal de símbolo reservado à autoridade pública. No total, o ex-assessor pode passar 3 anos atrás das grades.

No congresso, duas comissões, uma senatorial e uma CPI na Assembleia Nacional (AN) francesa, serão abertas desde a semana que vem. Gérard Collomb deve ser ouvido nesta terça-feira (24 de julho) no Senado francês. O objetivo, principalmente no caso da CPI na AN, é o de compreender como e porquê Alexandre Benalla esteve presente a manifestação junto às forças policiais.

Enquanto isso, You Agency Press (YAP) prepara reportagem completa para a semana que vem. Entre crise política e escândalo de Estado, o caso Benalla será um aborrecimento durável ou uma “novela de verão”?  Encontre a resposta aqui. Siga, curta e compartilhe nosso trabalho!

 

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