Paris sob intensa vigilância controla mas não impede a violência durante o 4° ato do movimento Coletes Amarelos

Os Coletes Amarelos protestaram pela 4ª vez consecutiva desde a eclosão deste movimento de revolta fiscal, social e política.Em toda a França foram 33 mil Coletes Amarelos e 8 mil em Paris.

Mesmo com um clima pacífico, desde às 10h da manhã foram desencadeado conflitos localizados e movediços que continuam  causando choques esporádicos por todo o centro da capital. Os Coletes Amarelos, desarmados, utilizaram o mobiliário urbano e a vegetação para atacar à tropa de choque e para construir barricadas.Por volta do meio-dia, foi erigida uma barricada incendiária  foi destruída por blindados.

No alto da avenida Champs Elysée um prédio que abriga uma livraria e um canal de notícias  foi hostilizado e atacado pelos manifestantes. Neste momento, a situação ainda é tensa na região do Grandes Bulevares no limite entre 2º e 9º distritos de Paris. Blindados foram vistos neste mesmo bairro.

No final da tarde, a Prefeitura de Polícia informou que foram mais de mil detenções preventivas em todo o país e mais de 650 em Paris. Até o fechamento desta matéria, foram contabilizados 55 feridos  sendo 3 do lado policial.

Os Coletes Amarelos não chegaram ao Palácio Elysée ou à Praça da Concórdia vizinha mas para tanto ele obrigaram as autoridades de polícia da Capital à bloquear diversos bairros da cidade.Até as 20h de Paris, os bairros adjacentes aos 8º e 16º distritos e o do centro da Capital continuam, até este momento, intensamente vigiados e parcialmente bloqueados à circulação. Fecharam suas portas durante todo o dia e noite de hoje, 45 estações de metrô, a torre Eiffel, pelo menos 10 museus e casas de espetáculos.

As inúmeras bairreiras filtrantes de polícias enxugaram o cortejo de manifestantes de instrumentos, ferramentas, armas brancas e outros artefatos perigosos que poderiam servir de arma aos ativistas mais irritadiços. Que levaram à uma repetição do caos extremo que a cidade luz conheceu no final de semana passado.

A revista rigorosa da polícia privou a maioria dos milhares de manifestantes de capacetes, máscaras anti-gaz e óculos de proteção contra as granadas de lacrimogêneo, que demoraram horas à poluir o ar da avenida Champs Elysée mas que no meio da manhã rasgavam os céu sobre as cabeças do Coletes Amarelo já numerosos no local.

Difícil de dizer, pelo visual,  à  grupos ou sub-movimentos que poderiam pertencer oas ativistas violentos mas desarmados e que à mão nu desencadearam as primeiras cargas policiais no alto da mais famosa avenida do mundo. Sobretudo, desde de as primeiras horas da manhã, a Prefeitura de Polícia e a Brigada Anti-criminalidade (BAC) da polícia Nacional procederam à detenções preventivas antes mesmo que estes manifestantes extremistas, encontrados com armas ou artefatos proibidos, penetrassem no perímetro reservado à manifestação dos Coletes Amarelos.

Temendo uma nova jornada negra, as forças de ordem, sob grande tensão, apostaram na antecipação para que, em caso de necessidade, o uso da força fosse menos intenso que no sábado passado muito embora mais eficaz – dispersando manifestantes mais e menos determinados com facilidade.  Mas, sobretudo, os representantes da lei eram 8 mil para controlar os 8 mil manifestantes – na verdade, um punhado dentre eles.

O dispositivo parisiense ainda contou com 12 blindados para dar apoio as manobras de desbloqueio de vias ocupadas e destruição de barricadas. Em todo país, o efetivos se elevaram à 89 mil policiais militares e civis – na semana passada eles foram 65 mil em toda a França e 5 mil e 500 na Capital.

O resultado foi um dia de protestos com focos de violência mais localizados e com agressores menos insurgentes em comparação com a semana passada. O nosso correspondente   estava na avenida quando o primeiro refrega ao lado da loja de luxo Cartier e de muitas outras escaramuças  seguiram  espalhando no espaço e no tempo.

Entre ataques e contra-ataques, a multidão persente na avenida, ora entoava o hino nacional, ora exigia, aos brados, a demissão do presidente da república Emmanuel Macron.  Ou ainda insultava a profissão jornalística de um modo geral, ou a emissora de notícias BFMTV em particular, cujo prédio de um de seus estúdios parisienses – Drugstore Publicis – foi atacado no final da manhã.

Em uma cena que se tornou corriqueira, militantes exaltados de extrema direita – mas poderiam ser de extrema esquerda – puseram ao chão, um repórter fotográfico pelo simples fato de que este faz parte da imprensa detestada. Uma carta profissional, um microfone em punho ou um aparelho fotográfico à tiracolo pode ser o suficiente para colocar um profissional da comunicação em uma situação iminente de perigo durante as manifestações dos Coletes Amarelos.

Por volta das 11h, na avenida Friedland, nos arredores do Arco do Triunfo, uma primeira barricada incendiária foi erigida por “ultras” armados de pedras e paralelepípedos arrancados à via de rolamento. Uma chuva de projeteis improvisados caia sobre a tropa de choque que respondia pelo ataque à pé e por tiros de lacrimogêneo em quantidade bem mais moderada que há um sábado quando a cada carga policial correspondia uma barreira de fumaça e gaz de uma intensidade que mesmo as autoridades consideraram rara.

Esta primeira trincheira permitiu aos blindados presentes em Paris em apoio à ação de manutenção da ordem – uma primeira vez que um tal veículo é empregado na Capital – demonstrassem a utilidade ao destruí-la sem grande embaraço.

Solidariedade, crítica e dever

O dia tinha apenas raiado e Jean-Pierre, o dono da banca de revistas de fronte à grande rotatória da Porta Maillot e de costas para o Arco do Triunfo, que serviu de teatro à guerrilha urbana do sábado anterior, recolhia exemplares de periódicos e se preparava para fechar definitivamente as portas do quiosque.

Jean-Pierre se prepara pra fechar as cortinas do da Banca de Revistas por receio de saque e vandalismo. No entanto, ele diz ser um Colete Amarelo no “fundo da alma” – foto:YAP

Ele se diz ambivalente em relação ao que viu nos últimos três finais de semana. Este comerciante com 4 décadas de atividade diz lamentar que os Coletes Amarelos não levem em conta os prejuízo que a agitação causa a pequenos empresários como ele – cerca de 2 mil euros por sábado de protesto ou 6 mil ao todo.

No entanto, “na alma” ele se sente um Colete Amarelo. Ele diz que que, na sua vida, “conheceu a verdadeira pobreza” e ainda conhece “pessoas em grande dificuldade”. Ele considera as reivindicações sociais do movimento justas.

Ainda na aurora, na única padaria aberta nas redondezas – mais de 90% do comércio no eixo Porta Maillot – Arco do Triunfo – praça da Concórdia e arredores tinham as persianas de aço cobrindo as vitrines – encontramos duas amigas jovens amigas recém desembarcadas da Capital da Bretanha, Rennes.

Marion e Claire, loiras como trigo de abril e com os olhos claros como o mar que banha a costas da terra natal, se declararam radicalmente pacifistas. Prudentes, elas exibiam, amarados às mochilas, os capacetes que a filtragem da polícia lhes permitiu guardar. Uma prova, se necessária, que elas sabiam dos riscos a jornada prenunciava. No entanto, se disseram sem medo dos “casseurs” – ou “quebradores” na linguagem local. Para as duas bretãs destemidas, os vândalos que macularam as ruas de Paris há uma semana “não fazem parte do movimento”, garante Marion.

“Nós viemos [pela primeira vez] protestar porque nós estimamos que é o nosso dever. A maneira forte não é necessariamente a melhor e nós pensamos que seria importante de mostrar a face pacifista deste movimento”, prossegue Marion.

Claire garante que, se a violência escalar à níveis próximos aos conhecidos tem um final de semana, que “neste caso nós nos desolidarizaremos e partiremos da manifestação”. Dever, desejo de reforçar o campo pacifista na rua, destemor. Mas, mais profundamente, Claire, que não tem um passado militante, aderiu aos Coletes Amarelos “porque no dia 12 do mês eu já estou no vermelho. Desta forma, não é possível viver e planejar o futuro”, justifica.

Mas então, se elas não fazem da demissão de Emmanuel Macron um sine qua non para a satisfação das suas angústias alimentares,  porque as duas camaradas não preferem a via política partidária ou sindical. “Não nos encontramos no sistema político em vigor. Se um dia nos encontrarmos em um partido, ok. Mas agora o que podemos fazer é isso”. conclui Marion.

Após o primeiro assalto das forças de ordem contra ativistas exaltados, a apreensão de mais embates e dispersão de lacrimogêneo tinha chegado ao cume matinal quando encontramos Ophelie que vem de Sarthe, no centro da França. A experiencia da terceira manifestação do 1º de dezembro, a barragem de lacrimogêneo, as barricadas em fogo, carros incinerados ou o saque do início da noite não a detiveram de voltar à avenida Champs Elysée e suas promessas de grande violência.

“Eu não me deixarei dominar pelo medo”, diz ela, em tom convicto e resoluto. Ela é mais politizada que a dupla bretã. “O poder econômico coloca no poder político um presidente que serve o interesse dos super ricos”, sustenta. “Eles [os políticos eleitos] não servem o interesse geral e isso quer dizer que há que se revoltar”, deduz.

O que ela que, “e não é de hoje”, é “se livrar de Macron e da política de austeridade que é a sua e que coloca um banqueiro no topo do Estado”, deixa claro. Ela é uma ativista que quer sair “de um sistema representativo que não é mais funcional” aos seus olhos.

Ela não se desinteressa da discussão específica de busca de uma maior justiça social e fiscal no país. No entanto, a jovem militante acredita que é necessário mudar as regras democráticas “por que com um bom sistema [político] nós teremos mais poder aquisitivo”. E ela acha que as soluções existem. “é só ouvir o povo, no entanto, o poder não nos obedece”, pensa.

A vitória para a nativa de Sarthe significaria: “Ou agente ganha e o sistema muda, ou agente perde e se rebaixa e volta pra casa como ‘merdas'”. declara, sem embaraços.

“Meu povo é belo, meu povo é grande e ele fará belas coisas se lhe derem o poder”, crava Ophelie.

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Emmanuel Macron, o presidente que inspira sentimentos de repulsa unânimes entre os Coletes Amarelos, ainda assim, é aguardado pelos manifestantes. Contudo, ainda que o silêncio do chefe do Estado se faça cada vez mais sentir, este deve se dirigir aos francesa apenas no início da semana que vem.

Não só os revoltosos Coletes Amarelos, mas a classe política francesa, em especial a oposição o espera na esquina.

DF de Paris.

 

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