* No início da noite, de acordo com os números vindos do Interior, os policiais realizaram mais de 17 mil controles preventivos e cerca de 300 detenções nos entornos da passeata parisiense.
* O Dia do Trabalho em Paris foi fortemente perturbado pela repressão dos ativistas ultra-violentos mesmo antes do começo da tradicional passeata sindical organizada todos os anos pelas centrais francesas. Até meia hora antes do horário previsto para o inicio da manifestação, haviam dúvidas sobre as chances do cortejo de partir em direção à Praça da Itália, ponto de dispersão declarado pelos organizadores. A passeata se lançou por volta da 14 horas e 30 minutos apesar do confronto prévio marcado por cargas de gaz lacrimogêneo e detenções vigorosas de ativistas
* No entanto, o clima de guerrilha trazido pela presença de manifestantes ultra-violentos, obrigou Philippe Martinez, secretário geral da CGT, principal central sindical do pais, à abandonar o cortejo deste 1 ° de Maio. A dispersão provocada pelos afrontamentos levou os militantes da Força Sindical (FO) – terceira central da França – a desfilar na contra mão do trajeto oficial
* As 14 horas, de acordo com o Ministério do Interior, as comemorações do Dia do Trabalho reuniram 151 mil pessoas pela França e 16 mil em Paris. Uma contagem independente patrocinada por um grupo de comunicação do país fala de 40 mil manifestantes na capital.
* O ministério do Interior anunciou, desde ontem, um contingente de policia importante para prevenir as cenas de guerrilha urbana produzidas por muitas das manifestações do Movimento dos Coletes Amarelos (CAs) em diversos sábados de mobilização na Capital. De acordo com o ministro do Interior Christophe Castaner, o perigo que pairava sobre esta jornada internacional de luta trabalhista viria da presença esperada de pelo menos 1.000 militantes ditos “Black-Blocs”. O dispositivo de policia em Paris conta com 7.400 policiais civis e militares
* Desde as primeiras horas da manhã, as forças da ordem bloquearam o acesso à bairros sensíveis da capital, procederam a milhares de controles preventivos de manifestantes e centenas de detenções. No entanto, pouco antes das 13 horas, tropas da policia de Choque, iniciaram uma primeira carga contra um grupo de “Black-Blocs” postados na vanguarda do cortejo em formação
Uma semana depois da primeira coletiva concedida por Emmanuel Macron desde que ele assumiu a presidência em maio de 2017 – ocasião escolhida o pelo chefe do Estado francês para apresentar medidas e reformas em resposta ao insurgente movimento dos Coletes Amarelos – os ativistas desta revolta social e política não parecem arrefecer nem ver graça nos anúncios presidenciais.
Com o humor das ruas ainda conflagrado devido a determinação de algumas das facções menos conciliatórias do movimento dos CAs, este 1° de maio, um dia tradicionalmente marcado por passeatas sindicais pacificas lideradas e organizadas pelas grandes centrais sindicais francesas, se deu sob o signo da tensão e da promessa de violência. Este Dia do Trabalho também marca um ano de aniversário dos fatos que levaram ao escândalo Benalla – nome do ex-guarda costa pessoal de Emmanuel Macron que foi visto e filmado interpelando de maneira irregular e viril três manifestantes durante o 1° de Maio 2018.
O ministério do Interior, desde a segunda-feira, anunciava um efetivo reforçado devido aos risco de ação violenta da parte de ativistas anti-capitalistas conhecidos como Black-Blocks e que reivindicam a violência como arma principal na luta contra o sistema. De acordo com o ministro Christophe Castaner, os serviços de inteligência interior previam à vinda de 1.000 à 2.000 “Black-Blocs” à Paris. Um augúrio de perturbação, de desordem e o perigo de confrontos intensos entre estes manifestantes tenazes e as forças da ordem.
Além do mais, conforme explicou à imprensa Castaner, poderia se esperar uma convergência das lutas sindical e amarela. Um a coabitação entre sindicalistas e CAs que poderia levar à um efeito de amplificação da tensão devido à uma certa cumplicidade implícita entre “Black-Blocs” e adeptos ultras deste movimento de revolta que já dura mais de 5 meses.
Em março, quando os CAs manifestavam no dia 16 em Paris, data que marcou os 4 meses de existência do movimento, uma aliança de circunstância entre militantes amarelos e os anti-capitalistas vestidos de preto se fez e a famosa avenida Champs-Élysée viveu uma tarde de saque, violência incendiaria e afrontamentos ferozes entre policiais e falanges de manifestantes Virulentos.
A devastação causada pela fúria que eclodiu ao longo da avenida “mais bonita do mundo” e adjacências resultou em demissões no seio da alta hierarquia da Policia Nacional e confortou o governo na determinação de aprovar uma lei contra o “hooliganismo” em protesto de rua. Uma lei que, uma vez aprovada, já foi retocada pelo Conselho Constitucional – tribunal que arbitra a constitucionalidade das leis na França _ e que é fortemente rejeitada pela oposição, sindicatos de juristas e por ONGs humanitárias que denunciam um atentado contra o direito de manifestação.
De acordo com o sindicalista policial Christophe Crépin explicou à rede de tevê France Info que se o choque entre os soldados da Policia Militar e os Ultras “Black-Blocs” e outros CAs radicalizados ocorreu tão cedo no dia de hoje seria devido a eficácia da ação preventiva que teria detido ou impedido de agir um número importante de ativistas com a intensão de provocar atos de violência. Na pratica, o resultado foi relativo. Os mesmos ativistas dispersados no incio da tarde se reagruparam nos entornos da Praça da Itália ao final do dia.
Por uma hora depois do início da passeata parisiense, o clima nas ruas foi misto. O principal contingente de manifestantes avançou calmamente em direção da Praça da Itália, com cartazes, bandeiras das centrais sindicais e bradando palavras de ordem. Às margens, pequenos incidentes de confronto entre ultras empedernidos e policiais da Choque eclodiram com periodicidade intermitente.
* Martinez
Uma hora depois do início da passeata, Philippe Martinez pode desfilar e atendeu a imprensa. Um atraso, logo, e não uma fuga, buscou assegurar o líder da CGT que é a central mais importante do país em termos históricos – a central moderada CFDT tem o maior número de militantes, seguida de perto pela antiga central ligada ao PCF.
No entanto, o secretário geral demonstrou claro desconforto e aborrecimento. Este encontro anual onde o sindicalismo, tradicionalmente, se coloca em evidência e atua no papel principal foi eclipsado pelo conflito feroz promovido pelas forças de ordem e pelos Ultras que se infiltram nas passeatas parisienses tem 5 meses e tem como única forma de manifestação a violência – campal ou contra o patrimônio.
Martinez acusou o governo e o Interior de alimentar “um clima de tensão” com o objetivo de “inibir” a participação de manifestantes pacíficos à passeatas e outras formas de protesto de rua. Ele ainda creditou ao Interior e ao ministro Christophe Castaner o saldo negativo com conflitos que perturbaram o desenrolar do desfile anual em Paris. Para ele, o governo não soube proteger os manifestantes da ação dos grupos violentos que irromperam e causaram transtornos.
As 14 horas, de acordo com o Ministério do Interior, as comemorações do Dia do Trabalho reuniram 151 mil pessoas pela França e 16 mil em Paris. Uma contagem independente patrocinada por um grupo de comunicação do país fala de 40 mil manifestantes na capital
No início da noite, ainda de acordo com os números vindos do Interior, os policiais realizaram mais de 17 mil controles preventivos e cerca de 300 detenções nos entornos da passeata parisiense.
* Tensão Final
A passeata, ao chegar às proximidades da Praça da Itália, conheceu novos episódios de tensão. A polícia defendeu prédios públicos e o comércio do bairro com cargas repetidas e sucessivas ao lançamento de bombas de gaz lacrimogêneo em direção de manifestantes também organizados em falanges e, até mesmo, refugiados por de traz de uma charrete-escudo em forma de cisne negro. Uma estranha alegoria em um carnaval de sem folia.
A batalha campal, na Praça da Itália, durou uma hora e se espalhou para outras vias nas adjacências. Até às cinco da tarde a tensão permanecia palpável e alguns focos de incêndio foram prontamente debelados por soldados do Corpo de Bombeiro de Paris.
* Pela França
A jornada, nas principais cidades do Interior da França, iniciaram mais cedo, no final da manhã, e as principais passeatas – Marselha, Toulouse, Bordeaux, Rennes, Nantes ou Grenoble – se desenrolaram de maneira pacífica.
* Bordeaux
Os sindicatos marcaram encontro às 10 horas na Praça da Republica da capital da Gironda. Bordeaux é umas das grandes cidades do interior da França onde o movimento dos Coletes Amarelos é mais profundamente enraizado. Diversas jornadas de sábado em Bordeaux tiveram horas de desordem e violência insurrecional deixando centenas de feridos e causando milhões de euros em prejuízos ao comércio local. Dai a proibição inédita de manifestar em certos bairros afluentes da cidade. Apesar de um percurso bem policiado e que evitou o centro e outras zonas sensíveis, a passeata levou 6.400 pessoas as ruas na cidade do sul, sendo cerca de 1.300 CAs, de acordo com a Prefeitura de Policia (PP) da Gironda.
* Grenoble
Por volta do meio-dia, de acordo com a policia, em Grenoble, aos pés dos alpes franceses, cerca de 4.200 pessoas desfilaram contra as políticas sociais do governo e contra o presidente Emmanuel Macron. Já os sindicatos responsáveis pela manifestação que comemora o Dia do Trabalhador contaram 10 mil nas ruas da cidade. A dispersão se fez no chamado Jardin da Cidade onde as tradicionais atrações organizadas pelos sindicatos animaram à tarde dos manifestantes.
* Nantes
Nantes comemorou o Dia do Trabalhador sem maiores incidentes. Eles foram 5.000 de acordo com os sindicatos e 3.500 segundo a Prefeitura de Policia. “[tudo] se passa em um bom ambiente (…) é a unidade o que conta para os sindicatos que, como os Coletes Amarelos reclamam uma maior justiça social”, reportou o correspondente local de France Bleu Loire Océan.
* Rennes
A capital Bretã teve dois cortejos distintos reagrupando centrais sindicais diferentes. A calma também reinou no Nordeste Francês. De acordo com os organizadores cerca de 3.000 pessoas participaram, ao todo.
*Marselha
A segunda metrópole francesa também conheceu uma jornada festiva e sem confrontos entre Ultras e forças da ordem. No entanto, o folclórico desencontro de números foi notável. Para os organizadores, cerca de 5.500 pares de pés marcharam sobre as ruas da colônia Fócida. Destes, em torno de um quinto seriam ativistas CAs. Já os sindicatos estimaram o público participante em mais de 30 mil.
O turbulento deputado nacional da região Bouches-du-Rhônes – onde se situa Marselha -, Jean-Luc Mélenchon, participou da passeata. O generalíssimo do Parido da France Insoumise (LFI) declarou que as comemorações marselhesas se davam sob os auspícios da “convergência de lutas” entre as forças sociais e os Coletes Amarelos. “O que é novo neste ano”, disse o esquerdista, “é a junção [realizada] entre o movimento operário, tradicional, sindical e o movimento espontâneo, insurrecional dos Coletes Amarelos”, completou o parlamentar.